terça-feira, 22 de abril de 2014

Jesus Cristo Superstar


Jesus Cristo Superstar foi o primeiro grande musical de fama internacional que assisti. Era o final dos anos 1970, eu tinha 19 anos, e estava em Londres absorvendo como uma esponja toda a efervescência da capital mundial do desbunde. A montagem era grandiosa e o visual hippie abusava do colorido, do degradê, e das batas indianas. Eu já tinha visto a versão do cinema, filmada em locações em Israel, e praticamente já conhecia todas as músicas de cor.

Na minha coleção hoje eu tenho duas versões lançadas em DVD: a do filme de 1973 dirigido por Norman Jewison, e a da produção filmada nos estúdios da Pinewood em 2001 com clima de teatro filmado e com guarda-roupa já modernizado para o novo milênio e livre do ranço hiporongo.

No último domingo assisti à produção brasileira no teatro do Complexo Ohtake Cultural. A expectativa era altíssima e eu não me decepcionei. O visual geral é quase clean e a iluminação cria efeitos surpreendentes que às vezes dão ao palco um aspecto de fotografia tridimensional. A montagem é extremamente profissional em todos os aspectos, e todos os atores têm desempenhos muito competentes. Há momentos excepcionais. Fred Silveira, que eu não conhecia e que interpreta Pôncio Pilatos, deixa uma marca impactante e tem a oportunidade de brilhar e arrancar muitos aplausos no solo O Sonho de Pilatos. Igor Rickli tem olhos azuis de uma beleza perturbadora, que ajudam a compor um Jesus Cristo lindo de semblante carismático.

Acostumado com a versão original das músicas, temi sentir estranheza com as versões em português. Não aconteceu. A produção abandonou a versão traduzida por Vinícius de Moraes em 1972 (que pode ser ouvida aqui) e que usava vocabulário típico da época (como "céu na cuca" para Heaven on Their Minds) em favor de versões mais livres que privilegiam a musicalidade. Os "versionistas" Bianca Tadini e Luciano Andrey passaram oito meses vertendo as músicas e experimentando juntamente com o diretor Jorge Takla para obter resultados vocais que valorizassem principalmente as vogais nos momentos de vocalizações mais intensas (gritos, clamores e falsetes) como nas composições originais. Ficou perfeito. É só conferir abaixo a interpretação de Negra Li (Maria Madalena) para Não Sei Como Amá-lo (I Don't Know How To Love Him).

Jesus Cristo Superstar fica em cartaz em São Paulo até começo de junho, e o teatro do Complexo Cultural Ohtake é lindíssimo e quase vale a visita por si só.




Um comentário:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

seus comentários e suas percepções estão perfeitas, pelo menos sob o q senti assistindo este musical ... aplausos para eles e para vc ...