quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O novo normal

Eu não costumo assistir a Louco Por Elas, mas o episódio desta última terça-feira valeu a pena principalmente por esta cena de 3 minutos, quando a família descobre que o pai do Leo (Moscovis), há muito tempo sem contato com a família, hoje é mulher. E parabéns ao Reginaldo Faria, ator que já me tirou o sono nos anos 80 com sua beleza viril, que fez uma ótima Veruska e continuou lindo mesmo travestido.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

50 tons de gay

Existem muito mais cores no arco-íris que simboliza o movimento gay do que pode imaginar nossa vã filosofia. iO Tillett Wright, que aos 6 anos decidiu viver como menino e depois dos 14 resolveu voltar a viver como mulher, fotografou mais de 2.000 pessoas da comunidade LGBT para desenhar um espectro da sexualidade gay neste ensaio sobre os 50 tons de gay,


Nesta apresentação iO Tillett Wright fala sobre a fluidez da sexualidade humana e sobre a essência do ensaio:

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um novo mundo

Estima-se em cerca de 125.000 o número de pessoas que saíram às ruas de Paris ontem para expressar apoio à legalização do casamento igualitário. E nenhuma outra cena poderia expressar tão bem quanto esta a ideia de que o mundo mudou. Aos religiosos conservadores de plantão, um só recado: saiam da frente porque o mundo tem pressa!!


Homem diet

Já se passaram 19 anos do primeiro comercial associando a coca diet à imagem do homem-objeto, e para comemorar a Coca-Cola acaba de lançar uma nova versão. Não vejo a hora de as marcas de cerveja darem um descanso para as bundudas, boas e gostosas, e seguirem o mesmo caminho da coca diet.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Lincoln

Lincoln não é um filme fácil e certamente vai frustrar quem for ao cinema em busca só de diversão. Está mais para uma aula de História, e transborda de diálogos e manobras políticas que podem perder o sentido com a menor distração.

O momento histórico retratado é o fim do primeiro mandato do presidente, quando ele já se reelegeu para o segundo mandato e a Guerra de Secessão está ceifando a vida de milhares de americanos tendo como um dos principais combustíveis a defesa da manutenção da escravidão pelos estados separatistas do sul. Lincoln se empenha pessoalmente em colocar para votação a 13ª alteração da constituição promulgando a abolição da escravatura. Os métodos utilizados para a obtenção da aprovação não são muito diferentes dos usados até hoje e nem são muito honestos, mas mesmo sabendo-se de antemão o resultado o filme consegue criar suspense genuíno com o desenrolar do enredo.

O mais interessante é a oportunidade de analisar o momento histórico em retrospecto. Presenciar a luta pela abolição da escravatura sabendo que o atual presidente é negro. Ver as reações dos políticos à simples possibilidade de que negros e mulheres viessem a votar algum dia. Aprender que naquela época eram os Republicanos os mais progressistas e abolicionistas, enquanto os Democratas eram a oposição que lutava pela manutenção da escravatura.

Abraham Lincoln é considerado hoje um dos três mais importantes presidentes dos Estados Unidos (os outros são George Washington e Franklin D. Roosevelt). Tinha pouco estudo formal mas era extremamente inteligente, lia muito, e achava a escravidão imoral.

Os desempenhos são extraordinários, e Daniel Day-Lewis realmente desaparece sob o personagem. Sally Field (cada vez mais fisicamente parecida com a nossa Regina Duarte) faz Mary Todd Lincoln, a primeira-dama oriunda de família rica e que tinha episódios de desequilíbrio mental. E Tommy Lee Jones faz o republicano abolicionista Thaddeus Stevens também com desempenho excepcional e um simpático segredo doméstico que se revela ao final.

O filme pode ser melhor aproveitado com um pouco de pesquisa de História sobre a época e os personagens antes de sair para o cinema.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Eu caso gente

Pela lei brasileira, a presença de um tradutor público (antigamente éramos chamados de tradutores juramentados) é exigida toda vez que um estrangeiro que não fale o português precise assumir ou transferir direitos ou obrigações oficiais. Isto significa que além do trabalho de traduzir contratos, processos, procurações, sentenças, certidões, atestados, e documentos acadêmicos, eu participo de audiências e julgamentos de estrangeiros (normalmente triangulando a comunicação entre juiz e reu) e, com bastante frequência faço casamentos de casais binacionais. Casamentos são sempre divertidos - é o encontro de duas culturas diferentes, os noivos sempre estão muito nervosos, todo mundo trata o tradutor público com muita reverência e respeito, e a gente sempre acaba ficando para o começo da festa.

Ainda não tive a felicidade de fazer um casamento gay. Muitos colegas já fizeram e também já acompanharam casais para registro de uniões estáveis em cartório (a presença do tradutor público também é exigida neste caso), e todos disseram que os casamentos gays são os mais animados que já presenciaram. Um colega de São Paulo fez, somente no mês de dezembro, o casamento de um casal de lésbicas e dois casamentos de casais gays homens. Morri de inveja.

Ontem fui fazer um casamento em Jacareí - noiva brasileira e noivo americano. Apesar de ser um casal tradicional, o casamento foi feito no cartório onde foi registrado o primeiro casamento gay no Brasil. Eu tinha acompanhado as notícias pela mídia na época, mas ontem tive oportunidade de conhecer e conversar longamente com o oficial de registros dr. Marcelo Salaroli. Eu já o tinha visto na mídia defendendo a igualdade de direitos, mas não podia imaginar que ele era tão jovem, simpático, bonito, educado e agradável. Se eu não soubesse que ele é casado, tem uma esposa linda e uma filhinha que parece uma bonequinha de tão graciosa, acho que eu teria me apaixonado por ele. O mundo está precisando urgentemente de mais pessoas assim.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Esta garotada de hoje vai dominar o mundo

Se você está se sentindo meio pra baixo com todas as injustiças e dificuldades impostas pelo dia a dia de um indivíduo gay, se já está meio cansado de se ver sempre diminuído pelas religiões que pregam a intolerância, então este vídeo vai lhe fazer bem e deve lhe trazer novas esperanças. Primeiro, porque foi postado por um pai. Jonathan Rudolph é o pai de Jacob, e ficou tão orgulhoso do que o filho fez na quinta-feira da semana passada que resolveu compartilhar o vídeo com o mundo.

Jacob subiu ao palco da escola onde frequenta o último ano do ensino médio para receber o prêmio de melhor ator da disciplina de teatro, resultado da votação dos colegas. Ao agradecer o prêmio, ele explica que havia participado de algumas peças e musicais, mas que na realidade teve que representar durante a vida toda fingindo-se de hétero para evitar os ataques e o assédio, e que a partir de agora passaria a ser ele mesmo. Completou a declaração com um discurso lindo e foi ovacionado pelos colegas.

É uma pena que seja uma gravação caseira e o som não esteja muito bom (o discurso está transcrito abaixo). Mas é extremamente reconfortante ver a reação dos colegas e principalmente do pai, que escreveu "meu filho Jacob, na frente de mais de 300 pessoas, incluindo pais, professores, e colegas, fez algo hoje que demonstrou mais coragem do que qualquer coisa que eu já tenha feito em toda a minha vida". Ao final do vídeo o pai de Jacob deixa outra mensagem de esperança pelo fim da violência contra os gays.



O discurso:

"Sure I've been in a few plays and musicals, but more importantly, I've been acting every single day of my life. You see, I've been acting as someone I'm not. Most of you see me every day. You see me acting the part of 'straight' Jacob, when I am in fact LGBT. Unlike millions of other LGBT teens who have had to act every day to avoid verbal harassment and physical violence, I'm not going to do it anymore. It's time to end the hate in our society and accept the people for who they are regardless of their sex, race, orientation, or whatever else may be holding back love and friendship. So take me leave me or move me out of the way. Because I am what I am, and that's how I'm going to act from now on."

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Jonas leva sua mãe para jantar

Mal a língua portuguesa se refez do ataque do gerundismo e já surge outra ameaça no horizonte: o possessivismo. Resultado de traduções preguiçosas do inglês, onde se é permitido abusar dos possessivos, este novo vício se alastra feito chuchu na serra para criar ambiguidades completamente desnecessárias originadas do duplo sentido de "seu/sua" ("dele/dela" ou "teu/tua).

Quando li "Jonas leva sua mãe para jantar" pensei: quem raios é Jonas e por que ele levaria minha mãe para jantar? Hoje mesmo, pela manhã, ainda sonolento li "Como um Fotógrafo pode utilizar melhor seu iPad", que me levou a ficar encafifado imaginando porquê um fotógrafo usaria o meu iPad. Como se vê, está em todo lugar.

O vício tem se alastrado ultimamente, mas não é novo. Desde o tempo do Renato e seus Blue Caps, quando já copiávamos os artistas americanos, que os possessivos insistem em ocupar um lugar que não lhes pertence. Outras bandas conseguiram escapar da tentação (Kid Abelha e os Abóboras Selvagens é um nome que me vem à cabeça).

Em inglês os possessivos abundam; em português não é para ser assim. "Como um Fotógrafo pode utilizar melhor o iPad" dá conta do recado em bom português. E alguém por favor avisa este tal de Jonas que a minha mãe não sai para jantar com desconhecidos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Um único hoje


A solenidade da posse do presidente Barack Obama está acontecendo neste exato momento. Como esperado, Obama mencionou a comunidade gay especificamente no discurso oficial de posse.
"Nossa jornada não estará completa até que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como todos os outros perante a lei - pois se fomos em verdade criados iguais, então o amor que dedicamos um ao outro também deve ser igual."
Também emocionante foi ouvir Richard Blanco recitando o poema composto especialmente para a ocasião. One Today, que em tradução livre significa Um Único Hoje, fala principalmente da beleza de cada coisa simples e única e da necessidade de todas elas para formar o todo. Colei a transcrição do poema abaixo do vídeo.



ONE TODAY
Richard Blanco

One sun rose on us today, kindled over our shores,
peeking over the Smokies, greeting the faces
of the Great Lakes, spreading a simple truth
across the Great Plains, then charging across the Rockies.
One light, waking up rooftops, under each one, a story
told by our silent gestures moving behind windows.

My face, your face, millions of faces in morning’s mirrors,
each one yawning to life, crescendoing into our day:
pencil-yellow school buses, the rhythm of traffic lights,
fruit stands: apples, limes, and oranges arrayed like rainbows
begging our praise. Silver trucks heavy with oil or paper—
bricks or milk, teeming over highways alongside us,
on our way to clean tables, read ledgers, or save lives—
to teach geometry, or ring-up groceries as my mother did
for twenty years, so I could write this poem.

All of us as vital as the one light we move through,
the same light on blackboards with lessons for the day:
equations to solve, history to question, or atoms imagined,
the “I have a dream” we keep dreaming,
or the impossible vocabulary of sorrow that won’t explain
the empty desks of twenty children marked absent
today, and forever. Many prayers, but one light
breathing color into stained glass windows,
life into the faces of bronze statues, warmth
onto the steps of our museums and park benches
as mothers watch children slide into the day.

One ground. Our ground, rooting us to every stalk
of corn, every head of wheat sown by sweat
and hands, hands gleaning coal or planting windmills
in deserts and hilltops that keep us warm, hands
digging trenches, routing pipes and cables, hands
as worn as my father’s cutting sugarcane
so my brother and I could have books and shoes.

The dust of farms and deserts, cities and plains
mingled by one wind—our breath. Breathe. Hear it
through the day’s gorgeous din of honking cabs,
buses launching down avenues, the symphony
of footsteps, guitars, and screeching subways,
the unexpected song bird on your clothes line.

Hear: squeaky playground swings, trains whistling,
or whispers across café tables, Hear: the doors we open
for each other all day, saying: hello, shalom,
buon giorno, howdy, namaste, or buenos días
in the language my mother taught me—in every language
spoken into one wind carrying our lives
without prejudice, as these words break from my lips.

One sky: since the Appalachians and Sierras claimed
their majesty, and the Mississippi and Colorado worked
their way to the sea. Thank the work of our hands:
weaving steel into bridges, finishing one more report
for the boss on time, stitching another wound
or uniform, the first brush stroke on a portrait,
or the last floor on the Freedom Tower
jutting into a sky that yields to our resilience.

One sky, toward which we sometimes lift our eyes
tired from work: some days guessing at the weather
of our lives, some days giving thanks for a love
that loves you back, sometimes praising a mother
who knew how to give, or forgiving a father
who couldn’t give what you wanted.

We head home: through the gloss of rain or weight
of snow, or the plum blush of dusk, but always—home,
always under one sky, our sky. And always one moon
like a silent drum tapping on every rooftop
and every window, of one country—all of us—
facing the stars
hope—a new constellation
waiting for us to map it,
waiting for us to name it—together.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Josephine


Uma vez por outra surge um artista que desafia toda a formatação de classificações existentes. É o caso de Josephine, inglesa de Manchester, que usa a voz lindíssima para promover ritmos que denunciam suas raízes africanas em suaves combinações de jazz, soul, folk e pop. Explicar mais do isto seria tentar classificá-la, tarefa aparentemente impossível e absolutamente desnecessária.

Portrait, album de estreia, já está à venda desde meados do ano passado. Acesse aqui para degustar cada uma das dez faixas e ler a crítica super positiva que a BBC fez da cantora.










sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

As voltas que o mundo dá


Esta foto celebra o encontro ocorrido ontem na Casa Branca, quando David Hall foi oficialmente recebido pela primeira dama Michelle Obama. David Hall arriscou a vida pelo país servindo nas Forças Armadas, mas foi exonerado quando descobriram que era gay. Em 2010 David Hall escreveu uma carta ao presidente Obama relatando toda a angústia e frustração pela interrupção da carreira militar brilhante que ele conduzia com orgulho.

O encontro de ontem com a primeira dama foi para confirmação do convite feito para que David Hall participe da festa da posse como convidado especial do presidente como um dos oito integrantes da mesa durante a solenidade do juramento.

Na próxima segunda-feira, durante a posse, uma série de pequenos e importantes detalhes mostrarão o empenho pessoal do presidente Obama em corrigir erros históricos e apagar a vergonha do país por tratar seus cidadãos gays de forma injusta, cruel e preconceituosa. Virá o dia em que as grandes religiões terão que passar pelo mesmo mea culpa, quando tentarão apagar as manchas do passado que certamente deixarão uma nódoa vergonhosa em suas histórias.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Assumindo na firma

Embora Rupert Everett continue aconselhando os atores gays a não se assumirem publicamente - o contrário do que faz o mais bem resolvido Ian McKellen - está comprovado que tirar o peso dos ombros influi positivamente em todos os aspectos da vida. As empresas grandes no Brasil já possuem políticas de inclusão da diversidade e de combate à homofobia, e tem sido cada vez mais comum que funcionários gays se sintam seguros para se assumir na firma sem temer represálias.

Este é o tema deste artigo interessante publicado no UOL hoje: Assumir homossexualidade favorece desempenho no trabalho. Todo mundo já sabia, mas é importante conversar sobre isto para que a sensação de segurança seja maior. Em uma empresa séria ninguém está preocupado com quem você se deita, contanto que não seja com a mulher (ou marido) do chefe.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A questão da década

A batalha pela aceitação da comunidade homossexual com os mesmos direitos no casamento deve ser a grande questão social da década nos Estados Unidos. Alguns estados começam a perceber que estão ficando para trás e correm para alcançar a posição de outros estados que já reconhecem a igualdade no casamento há anos e não arderam no fogo do inferno como os religiosos previam.

O estado de Rhode Island, por exemplo, pretende votar a lei da igualdade em breve, e promoveu ontem a audiência pública para ouvir seus cidadãos. Entre as 200 pessoas que se inscreveram para falar contra e a favor (cada um tinha direito a 2 minutos), chamou a atenção o garotinho que subiu para ler o depoimento defendendo o casamento igualitário sem se intimidar com a grande quantidade de fanáticos religiosos dentro e fora do salão principal.

A visão dos religiosos de braços estendidos para o céu clamando para que a ira divina caia sobre os gays é de uma palurdice difícil de quantificar.

Era proibido fazer cocô nos anos 70

Estou adorando esta série de reportagens sobre a censura na nossa televisão que o UOL está publicando esta semana. Quem viveu nos anos 70 e 80 sabe muito bem como o Ministério da Justiça se julgava no direito de controlar com mão de ferro e com critérios bastante tendenciosos o que cada um podia ou não podia ver ou ouvir.

Naquela época não se podia nem insinuar qualquer menção a homossexuais, casos extraconjugais, drogas, suicídio, separações, ofensas à Igreja. Palavrões eram inadmissíveis e até a palavra "cocô" foi cortada de uma novela.

Considerando que na versão recente de Gabriela o personagem do José Wilker soltou um "e agora me dão licença que eu vou cagar..." a gente consegue ter uma ideia de como a sociedade de hoje é muito mais permissiva e tolerante. E está mais do que pronta para novos avanços.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Não existem gays no Irã

Casal de namorados no Irã. Mahsa aguarda para fazer a cirurgia de mudança de sexo e virar mulher, e Ahura, que aguarda a cirurgia para virar homem.
"Não existem gays no Irã". Esta afirmação do presidente Ahmadinejad quando visitava os Estados Unidos chocou o mundo há algum tempo e seu sentido começa agora começa a ficar mais claro, como explica esta reportagem da Folha de S. Paulo de hoje.

O Irã renega a homossexualidade mas aceita a transexualidade, que segundo eles é uma doença que acomete os heterossexuais e que pode ser curada pela via cirúrgica. O próprio estado subsidia operações de mudança de sexo, legalizadas por um decreto de 1984 do falecido aiatolá Khomeini.

A reportagem esclarece que as operações são precedidas de análises por psicólogos, psiquiatras, e médicos, mas ninguém pode afirmar em que condições todo o processo é conduzido. Embora o preconceito contra transexuais, operados ou não, permaneça forte - a reportagem leva a crer que muitos gays optam por mudar de sexo para escapar à perseguição.

Fiquei assombrado pelo pensamento do horror das pessoas que precisam trocar o corpo que habitam para conseguir continuar vivendo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Viagem


A Viagem (Cloud Atlas, 2012) é melhor apreciado se consumido exatamente pelo que é: várias histórias interessantes e bem executadas contadas ao mesmo tempo. Tentar encontrar uma ligação entre as histórias ou alguma lição moral profunda só vai tirar o prazer da diversão.

O que diferencia A Viagem de outros filmes com várias tramas paralelas independentes é que aqui as histórias variam de gênero (indo do drama à ficção científica) e cobrem uma grande variação temporal e geográfica (indo do passado até o próximo milênio, na Terra ou em outras galáxias). Até o momento de as histórias engrenarem o espectador fica com a impressão de estar sendo apresentado a um samba-enredo do crioulo doido - mas logo começa a diferenciar uma história da outra e o filme deslancha. E o mais interessante: o elenco espetacular (Tom Hanks, Halle Berry, Jim Sturgess, Susan Sarandon, Hugh Grant) se repete nas diferentes histórias, com o mesmo ator fazendo vários personagens em caracterizações tão perfeitas e diferentes que fica muitas vezes irreconhecível. Halle Berry, por exemplo, é uma moça branca judia em uma história, Hugo Weaving é mulher em outra, Susan Sarandon é homem na outra, e assim por diante - uma sacada genial. Espere até o final dos créditos para saber quem é quem (há uma apresentação dos personagens interpretados por cada ator) e se surpreenda.

Uma das histórias mais emocionantes se passa em 1936 e tem como protagonista um jovem compositor gay (Ben Whishaw) que compõe o sexteto Cloud Atlas do título original do filme.

Se os personagens feitos pelos mesmos atores são reencarnações da mesma alma em vários tempos, ou continuações de suas linhagens familiares, ou nada disso, e qual o significado da marca de nascença em formato de cometa que alguns apresentam, não faz a menor diferença. Como também não faz diferença a tentativa de vender a história como uma saga espiritual profunda (o próprio trailer de quase 7 minutos já é quase um curta-metragem por si só). A Viagem é muto boa diversão - mais ou menos como assistir a seis filmes diferentes pelo preço de um único ingresso.

Novos ares

Richard Blanco, poeta oficial da posse de Barack Obama.
No próximo dia 21 de janeiro acontece a solenidade de posse de Barack Obama como 44º presidente dos Estados Unidos. Todos os mínimos detalhes das diversas cerimônias são cuidadosamente organizados e escolhidos para representar visões e ideias coerentes com o novo mandato - e é possível que se enxerguem significados ocultos até na cor da gravata do presidente ou no modelo do vestido da primeira dama. Mas alguns outros detalhes são mais óbvios.

Obama tinha escolhido o reverendo Louie Giglio para fazer a bênção durante a cerimônia. Foi o que bastou para que a vida do reverendo fosse revirada ao avesso e se descobrisse que há cerca de 20 anos ele tinha feito declarações homofóbicas. A imprensa não deu descanso e o próprio reverendo Giglio acabou se vendo forçado a renunciar à honra. O comitê organizador da posse anunciou a desistência do reverendo, pediu desculpas pela escolha canhestra, e ainda se deu ao luxo de confessar que deveriam ter pesquisado melhor e que não o deveriam ter escolhido. A repercussão está até no New York Times.

Tudo isto serve para mostrar que, agora que não está comprometido com a obrigação de se reeleger, Obama deve demonstrar apoio mais aberto e direto aos gays e deve deixar claro que em sua administração não há espaço para o preconceito. Outro detalhe que aponta nesta direção é a escolha de Richard Blanco como poeta oficial da posse, com a importante missão de compor e recitar um poema durante a celebração. Richard Blanco é gay e de origem latina, e vive com o marido no estado do Maine, que acaba de aprovar a igualdade no casamento.

Como se tudo isto não fosse indício suficientemente forte da força pessoal que Obama pretende imprimir no apoio à diversidade durante seu segundo mandato, a Associação de Fanfarras Gays e Lésbicas foi convidada para marchar no desfile oficial.

Nos próximos quatro anos a marcha pela igualdade deve conseguir avanços e progressos sem precedentes na História.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Full frontal freedom

Pelos vários anos de engajamento na luta pela igualdade de direitos, os americanos conseguiram amadurecer as campanhas e construir estratégias eficazes que tocaram a população e refletiram nas urnas. Como este vídeo que ajudou a combater a homofobia para garantir a recente vitória de leis mais igualitárias e justas nos estados do Maine, Maryland, Washington e Minnesota.

Traveco da firma

Da mesma forma que a televisão não matou o cinema, a internet não vai matar a televisão. Mas que está dando uma boa chacoalhada - ah, está, sim! E isto é bom, ganhamos todos.

Esta turma que faz o Porta dos Fundos no YouTube está criando novos paradigmas e uma nova linguagem que vai ajudar a determinar como consumimos diversão nos próximos anos... ou meses, porque hoje em dia tudo muda muito rápido. Difícil escolher qual episódio é o melhor, mas este Traveco da Firma me fez rir bastante e muito alto, e já voltei para ver várias vezes. Estes meninos têm cada ideia...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mataram Sereia!


Achei deslumbrante o capítulo de estreia de O Canto da Sereia - a história é boa e está empolgante no vídeo. O que mais me impressionou foram os personagens. Cada um tem sua complexidade e as caracterizações estão um arraso - ninguém ali lembra nenhum personagem que já tenha interpretado antes. Mal dá para acreditar que o João Miguel tenha se transformado tão bem no maquiador efeminado, principalmente depois de ter interpretado um cangaceiro acima de qualquer suspeita em Cordel Encantado. Já tinha me impressionado com ele quando o conheci em Estômago, um filme simplesmente desconcertante em que ele contracena com a também fabulosa Fabiula Nascimento que também está em O Canto da Sereia. Sobre esta série só dá para falar no superlativo.

Reveja abaixo a cena do embate entre Sereia e o governador durante o desfile do trio elétrico:



O Brasil é hexa e o José de Abreu é bi

Pronto, entramos em outro estágio. E já não era sem tempo. Até hoje ainda não tinha aparecido nenhuma celebridade de razoável grandeza no Brasil que se admitisse gay ou bissexual. Tem rumores, tem gente tão gay que nem consegue disfarçar, mas ninguém admite. Não há orgulho. Só desmentidos, ou indiferença. Só há vergonha.

Mas hoje José de Abreu resolveu rasgar o verbo. "Eu sou bissexual, e daí?". Ainda muito vivo na memória depois do irretocável Nilo de Avenida Brasil (hi, hi, hi), José de Abreu se manifestou pelo Twitter. O que faz a história um pouco mais interessante é que José de Abreu nunca foi alvo de rumores ou dúvidas, nunca precisou se justificar ou explicar - simplesmente achou que precisava dizer isto. Isto não é bom?

Engradados e barris


Quem não se lembra do tempo em que as propagandas só mostravam crianças lindas e loiras? Agora os grandes comerciais estão mais atentos para a diversidade, e crianças negras e orientais, também lindas, já são presença corriqueira na publicidade. Mas os casais de comercial de margarina ainda são de sexos opostos.

A publicidade tem feito raras incursões na intimidade dos casais do mesmo sexo. Por isto é um alento esta ideia da home page da americana Crate&Barrel, que inclusive despacha para o Brasil.

Fique em casa no sábado à noite, cozinhando juntinho, jantando juntinho. Música, luz de velas, e uma boa garrafa de vinho, e você pode ficar com a mesa o tempo que quiser (texto do site).

Me deu vontade de renovar a casa inteira. Acho que vou começar pela cozinha.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Chávez subiu no telhado

Acho que já não resta dúvidas que o presidente Hugo Chávez está vivendo os últimos dias de vida. Talvez até já esteja morto enquanto a cúpula do país ensaia o melhor jeito de trazer a notícia ao público.

Uma doença terminal implacável consome toda a família e os amigos e não há palavras para descrever a dor de se ver a pessoa morrendo aos poucos dia a dia. Mas eu acho ainda mais triste a decisão, nos dias de hoje, de fingir que nada está acontecendo e de vender uma falsa imagem de saúde para que Chávez pudesse vencer mais uma eleição. Sabendo que tinha poucos meses de vida, não teria sido mais digno recolher-se, programar a transição do país sem se envolver muito, passar os últimos dias com o conforto da família?

É normalmente muito triste o fim dos que se julgam imortais na sua sede de poder e conquista.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

É tudo tão simples

Teve um dia entre o Natal e o ano novo que eu acordei às 3 da manhã completamente sem sono e com disposição para começar uma aula de aeróbica. Depois de jurar mentalmente que nunca mais tomo café à noite, saí da cama e fui procurar algo para me distrair. Lembrei-me que a Amazon já está operando no Brasil há quase um mês e eu ainda não tinha testado o serviço. Achei um e-book bem baratinho e que desse para ler sem exigir muito dos neurônios (É Tudo Tão Simples, Danuza Leão, por R$ 13,20), fechei a compra, e em exatos 15 segundos o livro estava baixado no iPad pelo aplicativo do Kindle. Uma maravilha de serviço. E o aplicativo é excelente - permite anotações, compartilhamento de trechos, ajuste do tamanho e tipo da letra, cor do fundo, não falta nada. Totalmente aprovado.

Não dá mais para resistir à era digital. Eu também costumava dizer que jamais abandonaria o cheiro único dos livros de papel, mas daí me dei conta que era mais ou menos o mesmo que no século passado se opôr à chegada dos automóveis por apego ao cheiro dos cavalos, ou qualquer outra desculpa que a gente inventa para não sair da zona de conforto e tentar o novo. Você escolhe: ou fica parado no tempo ou embarca na onda. O tempo não para.

O livro? É uma grande bobagem, mas muito divertido. A Danuza Leão tem um estilo direto de frases curtas, bom humor sempre, umas tiradas engraçadas. Às vezes é preciso dar um desconto para tolices do tipo "Morra de sede mas nunca beba água em copo de plástico". A gente sabe que estando com sede no meio do deserto vai beber água até em lata de óleo usada sem lavar. Mas o livro não é um manual de sobrevivência no deserto ou na selva, mas de convivência na nossa sociedade que cada vez admite menos regras. E tem algumas tiradas deliciosas:

"Nunca fique mostrando fotos de netinhos [ou filhos, ou sobrinhos - inclusão minha]. Criança em fotografia é tudo igual".

"Se estiver louca[o] por um namorado, frequente os supermercados sexta e sábado à noite; se for preciso, alugue uma criança e leve a um teatrinho infantil, é lá que estão os pais recém-separados e ainda vulneráveis, com os filhos".

"Editoriais de moda são como textos de convite de exposição de pintura abstrata: ninguém entende nada".

"Quem mais quer casar nos dias de hoje são os gays".

"Ela tem uma mania: dá sempre uma garfadinha no que ele está comendo, seja lá o que for. No começo ele até acha graça, mas com o tempo vai se irritando, e, um dia, quando ela pega o último camarão, ele se levanta da mesa e não volta nem para pegar as roupas".

"Ter cara de rica envelhece".

Hey Jude

O Jude Law passou o feriado de final de ano com a família na costa do Maui. Quarentão, com entradas pronunciadas que prenunciam calvície precoce, corpo natural, sorriso de matar - um homem real de fechar o comércio! E ainda vem com aquele sotaque britânico charmosíssimo e irresistível. Foi o meu pedido de Natal para o papai noel que, obviamente, não foi atendido. Este ano eu prometo ser um bom menino.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ano bom


Entre meus defeitos - e eu tenho muitos, reconheço - está a falta de um gene que costuma equipar quase toda a espécie humana: o gene da festa. Pessoas normais gostam de festas, gostam de multidão de gente muito animada, gostam de beber e potencializar a alegria. Eu não. Meu cérebro não processa multidões ou grupos muito grandes de gente falando ao mesmo tempo. Se bebo fico (mais) introvertido e calado. E conviver com alguém em estado etílico alterado é algo para mim simplesmente insuportável. Como insuportável é também esta obrigatoriedade de extravasar alegria por todos os poros com gritinhos de "u-huuu!" com os punhos cerrados e os braços pra cima. Depois do terceiro copo todo mundo fica chato e só quem está também bêbado não percebe. E, não, não é da idade - sempre fui assim.

Já se dá para ter uma ideia do suplício que são para mim as festas de final de ano, quando o mundo inteiro resolve ir para o mesmo lugar ser absurdamente alegre por três dias. Normalmente me recolho e espero passar. Sei que o defeito é meu, então não fico tentando mudar as pessoas. Nos últimos réveillons Mr. Ed e eu jantamos juntos, fazemos um brinde, e não deixamos nossa tranquilidade ser afetada pela euforia lá de fora. Teve um ano que fomos dormir antes das 11 e acordamos assustados com os fogos da meia-noite.   Desde então costumamos esperar a meia-noite para ver os fogos da virada sem sair da sacada do apartamento.

Esta virada foi a primeira em dez anos que passamos com amigos. Um grupo pequeno, de oito pessoas, gente como a gente, que não liga muito para o frisson obrigatório da data. Ficamos sentados sob uma pérgula à beira da piscina tomando vinho, com pouca luz, e falamos de filmes, de viagens, da vida. À meia-noite nos cumprimentamos e entramos para cear um delicioso bacalhau ao forno com arroz branco e salada de lentilha, seguido de sobremesa de pudim de aipim com calda de uvas passas, torta de maçã, e sorvete de creme.

Depois da ceia voltamos para a mesa à beira da piscina e aproveitamos o frescor da brisa da noite e a visão quase onírica da lua no céu escuro para engatar mais algumas horas de conversa até quase o sol raiar. Acordei no dia seguinte com a sensação gostosa de que este vai ser um ano bom.