sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Shame


Ontem finalmente consegui assistir a Shame - o filme sobre um homem viciado em sexo que ficou mais famoso pelos comentários sobre a nudez do Michael Fassbender do que pelo roteiro em si. Eu já sabia que o filme era hermético e meio metido a "filme cabeça", então tentei conter a expectativa e ir sem muita sede ao pote. E gostei muito. Muito mesmo.

Pra começar, não acho que Brandon, o personagem principal, seja viciado em sexo. Eu o vi apenas como um homem de sexualidade exacerbada que adora sexo, como grande parte dos homens normais entre 20 e 30 anos de idade. A atividade sexual frequente não lhe atrapalha a vida e não é a causa de ele não conseguir estabelecer relacionamentos interpessoais de longo prazo. Ele provavelmente não conseguiria construir relacionamentos duradouros mesmo se não gostasse de sexo - para mim são duas coisas diferentes e não necessariamente associadas.

O que faz o Brandon um cara muito interessante é que ele é muito reservado e tímido. Daquele tipo que, no escritório, todo mundo acha que é um bobão. No entanto, ele transa muito mais do que o chefe falastrão metido a gostoso pegador que só espanta as mulheres com seu papo chato de galanteador barato. Um jeito ótimo de mostrar que quem vê cara não vê pinto. Tem muita gente assim por aí, contando loas de conquistador mas que não está pegando nem resfriado, enquanto muito come-quieto faz a festa com a cara de tímido bobinho. Adoro!

Achei fantasticamente bem roteirizadas as cenas em que o Brandon tenta engatar um relacionamento com a colega do escritório. É aí que a gente percebe como as relações interpessoais com base em sentimentos mais nobres podem ser muitíssimo complicadas. Namoro, família, casamento - isto pode realmente ser muito complicado para algumas pessoas, quase inatingível.

Por fim, não tenho dúvidas que relacionamentos puramente sexuais podem ser suficientes para satisfazer uma vida por algum tempo. O problema é que o Brandon, como qualquer um de nós, um dia vai ficar velho e menos atraente, e seu interesse por sexo provavelmente vai diminuir. É aí que os relacionamentos duradouros podem fazer falta. Porque depois dos 60 anos de idade a grande maioria das pessoas muito provavelmente está querendo chegar em casa e encontrar alguém legal para ficar junto e não está mais muito interessada em uma boa transa diferente a cada noite.

Mas o filme não é sobre um velhote de 60 anos querendo alguém para dormir de conchinha. Enquanto se é jovem, bonito, gostoso e cheio de tesão, nada errado em passar o rodo. Ou a rede.

8 comentários:

marta matui disse...

Mas atrapalhava a vida dele sim. O computador dele do trabalho tinha travado e o chefe diz que continha uma quantidade gigantesca de material pornográfico. Isso significa que ele não conseguia trabalhar direito. Claro que não é o sexo o problema dele. É algo anterior. Mas não tenho dúvidas de que ele usava o sexo como válvula de escape, como quem toma uns tragos para esquecer. E o sexo era para ele tão desconectado da afetividade que com a mulher que ele realmente gosta ele não consegue. Não tenho nenhuma duvida de que ele tinha uma relação doentia com o sexo e que isso não o fazia nada feliz.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

ainda não assisti mas ainda vou ... não entendo este lance de viciado em sexo ... eu adoro mesmo na minha idade ... kkkkkkkkkkk ... sou rotulado de viciado ... not ... apenas gosto do q é bom ... rs

Luciano disse...

Oi, Marta:
Eu o vi como um cara absolutamente bem resolvido e em paz com a sexualidade, ao contrário da irmã que era carente ao extremo e extremamente complicada (e chata).
Não sei se o sexo o atrapalhava no trabalho, porque ninguém reclamou da produção ou do desempenho profissional dele.
Computador cheio de pornografia é o que acontece com quase 100% dos homens normais (os homens têm uma relação com pornografia muito diferente da relação que as mulheres têm).
Não acho que o sexo estragou o relacionamento com a moça que ele gostava como você disse, porque não acho que ele gostava dela. Foi ela que forçou a barra e ele não recusou por timidez ou curiosidade. Mas o interesse que ele demonstra por ela beira o zero. Ele não quer amor, quer sexo.
**

Wilker disse...

Cara, depois de ler esse post, vou ver o filme. Estava em dúvida se o assistiria ou não. Apesar de ter sido um filme que desde sua estreia tem despertado comentários calorosos, justamente por conta do possível prisma ninfomaníaco do personagem.

Até mais...

Abraços!

Wilker.

Unknown disse...

Mas tem pessoas que são viciadas mesmo, chega a ser uma doença com tratamento e tudo, acho que tudo que é em axagero é demais e complica, outra coisa o que vai para a rotina ou vai ficando mais sério relacionamentos interpessoais vai complicando e é verdade, a verdade é que todo mundo está a procura de alguém e ninguém acha ninguém e fica esta multidão de solitários pelo mundo, mas e quando a idade avançada chegar? Eis a questão!!!!

Wilker disse...

Acho que quando a idade avança, Oliveira Santos, presumo eu, que as pessoas tendem a tornarem-se mais interessantes. Em todos os sentidos. No papo, na personalidade e, até mesmo, na relação sexual. É claro, alguém que saiba adquirir todas as boas oportunidades que a vida oferece para tornamo-nos mais, digamos, experientes.

Concordo que o sexo exagerado é aquela doença incontrolável. Já vi alguns vídeos de psiquiatras em São Paulo discorrendo sobre o sexo compulsivo. Na USP tem um Laboratório de tratamento para pessoas que sofrem desse transtorno.

Abraços.

Wilker.

Thiago disse...

Olha eu acho que no caso dele é compulsão por sexo. Em nenhum momento ele me pareceu feliz com aquilo que estava fazendo. Não identifiquei timidez e sim uma tensão constante. Na realidade esse tipo de compulsão não é muito notado ou identificado porque nossa sociedade glamouriza(ou fantasia) demais sobre sexo. Eu percebi que ele travou com a menina e acho isso pode acontecer tanto quanto com alguém que transa de menos como com alguém que transa demais e não associa sentimentos. As doenças psicológicas são várias e tão difíceis de catalogar ou identificar por conta da complexidade da psiquê humana. E no caso da irmã, acho que ela desenvolveu uma outra patologia relacionada que é a dependência emocional (sabe aquela pessoa obsessiva que não consegue desgrudar do relacionamento e se ancora no outro pra ser feliz?) Então, acredito que o Brandon assim como a irmã dele são exemplos da nossa sociedade de consumo de tudo (inclusive de sexo e afeto). Acho que esse filme mostra mais uma faceta do vazio existencial em que vivemos atualmente.

railer disse...

gostei do filme e achei bacana a mensagem. quem disse que relacionamentos são fáceis?