quinta-feira, 31 de maio de 2012

Questão de atitude

Gareth Thomas está na capa da revista inglesa Attitude. Com a proximidade dos jogos de Londres, nada mais apropriado do que homenagear o jogador de rúgbi que enfrentou o mundo dos esportes com muita coragem. A arquibancada agradece, penhorada.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fora da bolha

Eu vivo em um círculo esclarecido com uma família de mente aberta e amigos bem informados. Tenho sorte de nunca ter sido vítima de preconceito. Leio jornais e revistas que falam dos últimos avanços da luta pela igualdade de direitos. É até fácil esquecer que estou dentro de uma bolha confortável e que fora dela o mundo é muito diferente.

Nas horas em que a gente se dá conta de como o mundo lá fora pode ser cruel, dá até vontade de chorar. Como nesta cena lamentável de um garotinho de apenas 2 anos de idade incentivado a cantar "No homos gonna make it to heaven" (os homossexuais não vão para o céu) em público na igreja Apostolic Truth Tabenacle de Indiana, com o aplauso e encorajamento de toda a congregação. Depois, quando a gente denuncia que as igrejas são fábricas de homofobia e preconceito tem gente que não entende e acha que isto é só liberdade de expressão. Liberdade de expressão é o c*ralho!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A culpa é do mordomo


As investigações sobre o vazamento de informações sensíveis do Vaticano finalmente apontaram para um culpado: o mordomo. Paolo Gabrielle, 42 anos, é casado e mora dentro do Vaticano, e tem a responsabilidade de acordar o papa e colocá-lo para dormir, e ajudá-lo a se vestir. Ah, ele também é responsável por segurar o guarda-chuva, lustrar os sapatos Prada, e lavar as calcinhas do papa. É claro que ninguém me contou que o papa usa calcinha, mas considerando-se que ele geralmente se apresenta em público com vestimentas bem femininas, não é difícil imaginar o resto.

Paolo foi preso no último fim de semana. Acredita-se que tenha sido ele que revelou aos jornais italianos que cardeais cobravam até dez mil euros para agendar uma audiência com o papa, e que o papa reclama de Angela Merkel quando não está em público. Vazaram também segredos de disputas de poder dentro do Banco do Vaticano, e listas de agências que promovem encontros amorosos de garotos de programa com assessores do papa. E isto é só o começo.

MIB3 – Homens de Preto 3


Quinze anos depois do lançamento da franquia e dez anos depois do segundo filme chega Homens de Preto 3. E os espectadores já recebem o aviso que estão para embarcar em uma grande brincadeira ainda antes da primeira cena, quando a mulher símbolo da Columbia Pictures no início dos créditos aparrece de óculos escuros e levanta um neutralizador em lugar da tocha habitual.

O lançamento não poderia vir em melhor hora, quando a enxurrada de vampiros e outros bichos estranhos que invadiram as telas nos últimos anos começa a dar sinais de cansaço. Além da participação super especial de Emma Thompson o filme tem outro trunfo: maior parte da ação se passa em 1969, depois que o agente J (Will Smith) é obrigado a fazer uma viagem no tempo para salvar seu amigo K. K, uma excelente criação de Tommy Lee Jones, é interpretado por Josh Brolin na versão moço e mantém todos os maneirismos e manias do K veterano, convencendo rapidamente que são a mesma pessoa. A realidade do final dos anos 60 e o visual mais colorido trazem frescor para o filme.

Os anos 60 oferecem também oportunidades para ótimas piadas. Há tiradas engraçadas envolvendo Andy Warhol e Mick Jagger. Andy Warhol aparece, inclusive, como personagem do filme, e finalmente a gente descobre porque ele era tão estranho. E não, ele não era um ET; o segredo de Andy Warhol era outro. Em outro momento memorável, J descobre nos anos 60 um segredo de sua própria história antes de embarcar de volta para o futuro.

Homens de Preto 3 é diversão garantida para levar os sobrinhos e consumir com um saco grande de pipoca.

domingo, 27 de maio de 2012

Casamentos fora da lei

Esta história de querer viver juntos como em um casamento tradicional é coisa destes gays de hoje influenciados por toda esta pouca-vergonha mostrada na televisão, certo? Errado. Querer compartir uma vida comum com quem se ama é o sentimento mais natural do mundo. 

O autor Roger Streitmatter fez uma pesquisa extensa para apresentar em seu livro Outaw Marriages 15 casais homossexuais que fizeram história, como o poeta Walt Whitman que viveu com Peter Doyle por 27 anos até sua morte em 1892 (outros casais retratados podem ser vistos aqui).

Walt Whitman e Peter Doyle foram
casados de 1865 até 1892, quando
Whitman morreu.
Em reportagem do Huffington Post o autor reclama de forma bem humorada que o título do livro logo vai perder a razão de ser. Não vai demorar muito para que a igualdade no casamento seja estendida nos Estados Unidos a todos os casais, independente de orientação sexual. E depois ainda tem quem diga que os gays de hoje estão querendo "redefinir" o casamento.  

sábado, 26 de maio de 2012

Como num videclipe


Mais e mais casais homossexuais estão pensando em se unir e compartilhar a alegria com os amigos. E uma diferença entre os casamentos tradicionais e os casamentos gays tem saltado aos olhos. Saem as cafonérrimas fotos posadas do casal de braços entrelaçados com a taça de champanhe e cara de paisagem vencida, e entram os videos descontraídos feitos por videomakers descolados.

O vídeo abaixo não é um comercial de perfume. É de verdade, o vídeo do casamento de István e Tamás, realizado em Budapeste no ano passado. Um vídeo que dá para compartilhar com a família e os amigos e ver, ver, ver... sem se cansar.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Mais um passo



OK, ainda falta muito. Principalmente o passo mais difícil, que é enfrentar a ignorância abissal da bancada evangélica quando o projeto for colocado em votação. Mas o que me chamou a atenção foi o grande destaque simultâneo nos dois maiores portais noticiosos do país UOL e G1 na tarde de hoje.

A declaração oficial do presidente Obama na semana passada a favor do casamento igualitário também está servindo de catalizador para que uma série de organizações e entidades saiam do armário a favor da igualdade de direitos. A luta pelos direitos igualitários se tornou a mais recente contenda por direitos civis da história moderna, e muita gente está começando a perceber que estava do lado errado da história.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Construa, e eles virão

Inca e Rayas são dois pinguins machos que vivem no zoológico de Madri e não se separam. Passam o dia juntos, se ajudam, transam um com o outro, se divertem, interagem com os outros pinguins da colônia. Nos últimos tempos eles conseguiram dar um recado para os administradores do zoológico: fizeram um ninho e ficaram esperando. Há um mês o zoológico finalmente decidiu entregar-lhes um ovo, com a certeza que não haverá na colônia melhores pais. 

Curiosamente, Inca e Rayas nunca sofreram qualquer tipo de bullying dos companheiros. Nunca foram discriminados ou atacados pelo grupo. E os dois felizes futuros papais nunca demonstraram qualquer tipo de embaraço ou vergonha de ser como são. O que serve para mostrar, mais uma vez, que a homossexualidade é natural, a homofobia não.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Familiaridade

O Los Angeles Times publica hoje uma reportagem que analisa o avanço das conquistas de direitos dos homossexuais nos Estados Unidos, com duas conclusões interessantes: este tem sido o movimento por direitos civis mais rápido da história do país, e a principal causa pelo aumento do apoio é a familiaridade que se tem criado entre a população e os gays.

A familiaridade é resultado principalmente da convivência com gays na família, no trabalho, no círculo de amigos, e também na televisão. A representação positiva dos gays no horário nobre é apontada como uma das principais causas para a desmistificação do preconceito. O próprio vice-presidente dos Estados Unidos afirmou que a série Will & Grace foi fundamental para o fim de seu preconceito.

Felipe Titto
Muita gente tem dificuldade de entender isto. Acha que os gays buscam validação nos enredos de novelas, enquanto o que se busca é simplesmente a exposição que gera visibilidade positiva. Muitas idosas religiosas que equiparam a homossexualidade ao demônio torceram, sem perceber, pelo final feliz de Julinho e Thales em Ti-ti-ti e certamente terminaram a novela com a cabeça melhor do que quando começaram.

Avenida Brasil também se prepara para o início de uma nova trama que deve forçar o debate. Nesta semana entrou na história o Sidney (Felipe Titto), meio irmão da Tessália que provocou uma crise de ciúmes em Leleco (Marcos Caruso). Logo vai ficar esclarecido que Sidney é gay, e o bonitão vai engatar um namoro com o Roni, que vai enfrentar o preconceito da mãe evangélica, do pai boleiro machão, e do clube de futebol onde joga. A mistura explosiva gay + futebol + evangélicos na televisão aberta no horário nobre promete render bons momentos.

domingo, 20 de maio de 2012

Stayin' alive

Assim não dá! Três dias depois de levarem a Donna Summer levam o Robin Gibb?! Alguém deve estar preparando uma grande festa lá em cima. O Maurice já tinha partido em 2003, agora ficou apenas o Barry Gibb para lembrar o trio que marcou mais de meio século de música.

Eu me lembro exatamente da primeira música deles que caiu no meu ouvido: How Can You Mend A Broken Heart, do album Trafalgar (de 1971), que continua nova mais de 40 anos depois e certamente está entre as 10 melhores músicas românticas já produzidas. E com as músicas da trilha de Saturday Night Fever eles deixaram a marca definitiva na era disco - não há quem não tenha rodopiado de olhos fechados ao som de You Should Be Dancing, Jive Talkin', More Than A Woman ou Stayin' Alive.

Nos anos 80, quando eu trabalhava na Arábia Saudita, tinha uma música gostosinha dos Bee Gees que fazia um sucesso gigantesco por lá, e que eu nunca ouvi por aqui: We're The Bunburys. Uma raridade. Quem quiser ouvir e guardar, tem aqui.

Eu acho que começo a entender porque as pessoas, com a idade, vão ficando cada vez mais serenas em relação à ideia da morte. É que chega um momento em que o outro lado começa a ficar mais interessante do que este.

sábado, 19 de maio de 2012

Todo dia acordo cedo

A Globo passa por bom momento em matéria de novelas. Um mês depois, Avenida Brasil continua com o mesmo ritmo eletrizante da estreia e o autor ainda consegue colocar praticamente um gancho ao final de cada bloco - não dá nem para se ir ao banheiro nos intervalos.

E Cheias de Charme caiu no gosto do povo - é leve, engraçada, divertida e inteligente. No capítulo de hoje vazou para a internet o vídeo que vai fazer a fama das três empregadinhas. Alguém duvida que vai pegar?

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Angus Stone - Broken Brights


Eu preciso admitir algo logo de início: a beleza do Angus Stone me perturba. E muito. Eu sempre gostei dele em dupla com a irmãzinha Julia e já falei deles aqui, mas agora parece que resolveram cortar o cordãozinho umbilical que unia a dupla e seguir carreiras solos. The Memory Machine, disco solo da Julia Stone lançado em 2010, é nada menos que fantástico. Um segundo álbum solo da garota tem previsão de lançamento para julho próximo.

Angus Stone, apesar da beleza desconcertante, sempre foi mais tímido para mostrar a voz. Era a irmã que cantava em quase todas as faixas assinadas pela dupla. Em 2009 ele lançou o álbum Smoking Gun sob a alcunha de Lady of the Sunshine e agora está chegando com Broken Brights com seu próprio nome. Broken Brights tem previsão de lançamento para julho mas já vazou por todos os buracos da internet.

Para ouvir Broken Brights, que abre o álbum, é só clicar no play. E como Angus Stone além de lindo é muito bonzinho, ele está dando para os fãs a música assim de graça mesmo, porque dar por amor é muito mais gostoso.  Para baixar, ouvir, e sonhar com ele, é só clicar no link de download que aparece na faixa abaixo. 


quinta-feira, 17 de maio de 2012

A dona

É engraçada a sensação de perda de um ídolo. Fiquei meio passado. Mesmo que Donna Summer nunca mais produzisse nada, havia um certo conforto de saber que ela estava lá.

É claro que a música dela vai viver para sempre. Eu gosto até de Crayons, o álbum de 2008 que passou meio batido por aqui e que tem uma faixa chamada Drivin' Down Brazil. A música Crayons me embala na esteira quando consigo vencer a preguiça e me arrastar até a academia, embora Donna Summer tenha mesmo é um gosto gostoso de anos 80.

Para comemorar a partida da rainha, uma versão linda de La Vie En Rose gravada por Donna Summer e que pouca gente conhece pode ser baixada aqui (clicando em Download Now). E antes que alguém critique o uso de 'comemorar' nesta data triste, como fizeram com o comentarista esportivo da Globo há algumas semanas, comemorar significa 'trazer à memória, fazer recordar, solenizar recordando', que ela merece.

Melhor que isto, só desenhando

   
Este discurso do Barack Obama é de alguns anos atrás. Mas esta compilação de 5 minutos legendada em português deveria ter exibição obrigatória em todas as escolas, igrejas, clubes, e agremiações do país, e deveria ser transmitida em rede nacional na televisão pelo menos uma vez por semana.


Morrer de novo

Nestes últimos dias percebi duas postagens curiosas no Facebook: uma de um amigo surpreso com a notícia da morte do ator Irving São Paulo, e outra de outro amigo surpreso com a morte de Rodolfo Bottino. Detalhes: Irving São Paulo morreu em 2006 e Rodolfo Bottino morreu no final do ano passado. Depois percebi que ontem, durante certo tempo, a notícia da morte de Rodolfo Bottino estava entre os tópicos mais lidos do UOL.

A internet é assim. Caiu na rede, fica na rede para sempre. E tem muita gente começando a sofrer desta Síndrome Claudete Troiano.

Por outro lado, a Carolina Dieckmann está começando a perceber que não é possível desligar ou sufocar a internet. E  que deixar hackers furiosos não é um bom negócio.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pais e filhos

Eu sempre viajei nas fotos da Anne Geddes. Gosto dos ensaios de crianças no meio de repolhos, das crianças vestidas como em contos de fadas. Anne Geddes consegue transformar crianças em uma das coisas mais lindas do mundo.

As fotos com pais segurando os bebês sobre a própria pele nunca me transmitiram a menor sombra de qualquer sentimento remotamente associado à pedofilia. Até hoje nem teria pensado nisto se não tivesse lido a história do fotógrafo Paul Rusconi e me emocionado bastante. Paul Rusconi é um fotógrafo bastante conhecido (ele tem até fotos oficiais do Obama) que vive em Los Angeles e tem duas filhas gêmeas lindas. Ele se livrou recentemente de uma falsa acusação de ter estuprado as duas filhas (as garotinhas têm apenas dois anos de idade) e declarou, emocionado, que a única razão que motivou os acusadores foi o fato de ele ser gay. Para muita gente, gay é sinônimo de pervertido, tarado e pedófilo - o que é reforçado pelas pregações de pastores religiosos mal-informados. Veja o vídeo sobre o caso de Paul Rusconi nesta reportagem (e as fotos que motivaram a acusação) e você vai ter uma ideia do inferno que este pai deve ter enfrentado.
Paul Rusconi

Por isto é importante que mais casais gays sejam mostrados na televisão e nas novelas como as pessoas normais que são. Mitt Romney, um homem que tem chances reais de governar um dos países mais importantes do mundo, nunca teve contato com uma família de pais gays. Como é possível esperar algo de pessoas assim, além de preconceito?

terça-feira, 15 de maio de 2012

Primeiro presidente lésbica dos Estados Unidos

Não contentes com a definição de "primeiro presidente americano gay" dada a Obama pela Newsweek, o Washington Post foi um pouco mais além: "Barack Obama é o primeiro presidente mulher dos Estados Unidos".

Obama tem sido não apenas o presidente que mais avançou em relação aos direitos dos gays; ele também tem avançado bastante nos direitos das mulheres. Sua mulher Michelle é jovem, bonita, inteligente, atuante - e tem o apoio incondicional do marido. Barack Obama parece entender a alma feminina como nenhum outro antes dele.

Vamos ver agora quanto tempo demora para alguma outra publicação começar a chamar Barack Obama de primeiro presidente lésbica dos Estados Unidos.

Dançando sem parar

Eu sei que eu já deveria ter parado de me importar há muito tempo com as sandices que o João Pereira Coutinho escreve na Folha de S. Paulo. Hoje ele vem com mais um texto onde tenta mostrar perspicácia com a descrição de uma viagem ao Marrocos para dizer que "Espero que Obama agora nos brinde com a defesa da poligamia". Não entendo como um sujeito supostamente esclarecido consegue se posicionar ao mesmo lado da extrema direita religiosa americana, que usa este tipo de comparação como argumento contra o casamento igualitário - a de que a aprovação abriria as portas para que as pessoas se casassem com prédios ou árvores, ou com várias pessoas ao mesmo tempo. A pequenez do pensamento é tanta que nem dá para começar a argumentar.

Por outro lado, o prefeito de Newark, Cory Booker, usou o twitter para fazer uma declaração singela que consegue transmitir todo o significado da histórica declaração de Obama. Booker disse: "vou dar uma entrevista assim que conseguir parar de dançar". Uma grande pena que o Coutinho tenha um espaço tão privilegiado em um jornal de tão grande circulação e continue tão míope e tão tacanho.

Sade - Bring Me Home Live 2011

O que os fãs de música eletrônica, de jazz, de rock, de techno-brega, e de samba têm em comum? Todos gostam de Sade.

Pois está chegando o DVD+CD do show Bring Me Home da única cantora que consegue ser praticamente unanimidade nos dias de hoje. O lançamento é na próxima semana, mas o CD com 22 faixas já caiu na rede e já está fazendo a alegria de muita gente.

"We've been rehearsing for a whole lifetime for this, so it'd better be good". Assim ela abre o show com Soldier of Love, e o resto todo mundo já sabe: uma viagem.

domingo, 13 de maio de 2012

As mães do dia

Não é surpresa para ninguém que uma grande quantidade de homens gays têm um relacionamento extremamente especial com suas mães. Até algum tempo atrás acreditava-se mesmo que a superproteção materna poderia ser uma das causas da homossexualidade. Hoje sabe-se que é o contrário: é a condição homossexual que faz com que os filhos se aproximem das mães.

A relação de criador e criatura que existe entre mãe e filhos é complexa. Um dos meus filmes favoritos sobre o tema é o aflitivo Os Esquecidos (The Forgotten, 2004) com a Jualianne Moore fazendo o papel de uma mãe que tem instinto materno e memória dos filhos embora todos ao seu redor, incluindo seu marido, insistam que as crianças nunca existiram.

E, para comprovar mais uma vez que existem coisas que só uma mãe é capaz de fazer pelo filho, várias mães de filhos gays saem hoje à tarde em São Paulo em marcha contra a homofobia. Se eu pudesse estar em São Paulo hoje eu iria levar uma rosa para cada uma destas senhoras corajosas que estão lutando, inclusive, pelos filhos dos outros.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Transintolerância

Quem não se lembra da perseguição religiosa iniciada contra Salman Rushdie e seus Versos Satânicos? Ou da celeuma iniciada em 2007 com a publicação dos cartuns do sueco Lars Viks com o profeta Maomé? Apesar destes eventos terem se dado longe daqui, tudo indica que a próxima guerra santa deve acontecer aqui mesmo no Brasil.

O recrudescimento da religião na política está começando a atingir níveis insuportáveis. O alvo da vez é o grupo teatral cearense As Travestidas, que lançou um calendário com a recriação de 12 figuras icônicas de nossa cultura. A ideia é super criativa, ousada, mas de bom gosto. Gostei das fotos, teria um calendário deste na minha parede, e não vi nada de ofensivo (as fotos podem ser conferidas aqui). Não é o que achou o deputado estadual Fernando Hugo, que classificou o trabalho de aberração durante sessão na Assembleia, enviando em seguida uma carta ao arcebispo de Fortaleza e solicitando que a promotoria pública investigue o caso. A deputada evangélica Silvana Oliveira de Souza veio com o habitual "É o fim dos tempos". 

Em primeiro lugar, é lamentável que esta corja de deputados e arcebispos que não têm nada melhor para fazer viva neste patético estado de não-me-toques em pleno século vinte e um. Por outro lado, é terrível constatar que os políticos evangélicos resolveram iniciar uma cruzada religiosa que a população não pediu. Não estava na hora de alguém avisar a estes políticos que a Idade Média acabou já há alguns séculos? Minhas mãos estão comichando para tirar a metralhadora giratória do armário.




quinta-feira, 10 de maio de 2012

It gets better

Só o tempo vai dizer se a reeleição de Barack Obama sofreu algum prejuízo ou ganho com a declaração oficial de apoio ao casamento igualitário. Mas uma vantagem clara já pôde ser sentida. Nos primeiros 90 minutos que se seguiram à divulgação da declaração, a campanha para a reeleição de Obama recebeu doações espontâneas no valor de um milhão de dólares!!!!

Imagino que o Obama deva estar ainda um pouco atordoado com a grande repercussão de sua declaração histórica, por isso quero deixar um recadinho para ele: It gets better.

As voltas que o mundo dá


Este conjunto de fotos me foi indicado pelo Red e eu não resisti em colocá-lo aqui em destaque. O lugar é o mesmo, apenas separado por algumas décadas. Num futuro muito próximo a sociedade ainda vai sentir em relação à resistência pela igualdade de direitos dos homossexuais a mesma vergonha que sente hoje pela forma como tratou os negros no passado.

¡Hola! ¿Qué tal?

Eu fico triste de ver o caminho que a Argentina tem escolhido em sua trajetória econômica. O Brasil também já viveu sob governos populistas no passado e a gente sabe muito bem onde vai dar. Mas tenho me surpreendido muito positivamente com o avanço dos direitos individuais naquele país, que tem conseguido implementar mudanças que seriam impensadas na atual conjuntura brasileira. A aprovação do casamento igualitário há dois anos, por exemplo, foi um passo que colocou o país pelo menos dez anos à frente do Brasil em termos de direitos dos homossexuais.

Mas os progressos não param por aí. No começo desta semana foi aprovada a lei da morte digna para pacientes terminais. Esta lei envolve muita sensibilidade e leva em conta o respeito pelo paciente terminal, e só aumenta a dignidade da condição humana. Alguém já parou para imaginar o barulho que os políticos evangélicos e as igrejas fariam se aqui no Brasil fosse tentada iniciativa semelhante? Seria algo como aquele teatro patético da época da votação da interrupção da gravidez de feto anencéfalo, só que multiplicado por dez.

E ontem foi aprovada, por ampla maioria, a lei da identidade de gênero que autoriza travestis e transexuais a alterar o sexo no registro civil para ajustá-lo à condição real do indivíduo. Alguns estados brasileiros já permitem que travestis e transexuais utilizem o "nome social" em documentos da rede de saúde, mas isto está muito aquém de uma efetiva alteração civil de gênero.

A Argentina também é um pais latino de forte tradição religiosa. Ainda precisamos aprender com eles como se expulsa a religião da política. Urgentemente.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Podia ser você


Há dois dias, no aniversário de um ano da morte de Tom em uma queda acidental, o companheiro Shane resolveu fazer um vídeo e contar a história que havia sufocado durante todos estes meses. O vídeo, que já contabiliza quase oitocentos mil acessos em três dias, é um relato sincero de como certas pessoas podem ser extremamente cruéis, e como a ausência de legislações necessárias pode transformar a vida das pessoa em um verdadeiro inferno. Mas, principalmente, é um alerta sobre como a vida de qualquer um de nós pode mudar repentinamente em um segundo.

Chorei muito. Eu morro de medo de perder as pessoas que amo. Não consigo nem começar a imaginar o tamanho da dor que ele está sentindo.

Famílias sem complexos


A Rtve espanhola publicou no último fim de semana uma reportagem muito interessante sobre as famílias de casais homossexuais e transexuais na Espanha. Desde 2005 que o casamento igualitário está aprovado na Espanha, embora o Tribunal Constitucional - que se equipara ao nosso Supremo - ainda não tenha apreciado o recurso interposto pelo Partido Popular contra a lei da igualdade. O documentário mostra diferentes arestas das novas unidades familiares do presente: uma família de pais gays, uma família de mães lésbicas, uma mãe que se assumiu lésbica para a filha adolescente depois de ter se separado do marido, uma transexual feminina que teve uma filha quando ainda era homem.

Mas o mais interessante vem no final, com a reunião de todas estas novas famílias em um grande evento: o Segundo Encontro Europeu de Familias Gays, Lésbicas, Transexuais e Bissexuais. É quando a gente percebe que as famílias gays, lésbicas, transexuais e bissexuais são simplesmente famílias, exatamente como quaisquer outras que a gente conhece. Até mesmo meio caretas.

A emenda que separa

Como já era esperado, a Amendment One foi aprovada ontem na Carolina do Norte com uma derrota acachapante para os defensores dos direitos dos homossexuais. Os opositores do casamento igualitário se tornaram tão violentos e apoiados por organizações tão poderosas que hoje conseguem proibir até que leis sejam criadas no futuro. A Carolina do Norte nem tinha casamento homossexual, mas a nova lei proíbe que o estado venha a tê-lo ao inscrever na constituição que "o estado só reconhece casamentos entre um homem e uma mulher". As previsões mais otimistas são que seriam necessários não menos que vinte anos para se reverter a situação agora que chegou a este ponto.

Assim a Carolina do Norte se torna o 30º estado americano a acrescentar um artigo semelhante na constituição estadual proibindo que o casamento igualitário tenha qualquer possibilidade de virar lei em um futuro próximo.

Preocupante também é a diminuição do ritmo de crescimento da aceitação do casamento igualitário nos Estados Unidos. A tendência ainda é de crescimento, mas nos dois últimos anos o ritmo tem sido menor. A razão é clara: a investida das organizações religiosas tornou-se feroz e sem meias palavras, e o povo americano parece susceptível à crença que o casamento igualitário significa o fim do mundo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

A gata triste


Acabei de ler no blog do Tony e não resisti a divulgar aqui também; notícias assim merecem a mais ampla divulgação. A atriz mirim Ana Karolina Lannes, que interpreta a Ágata (filha da Carminha em Avenida Brasil), apesar da pouca idade tem uma história de vida cheia de percalços. Perdeu a mãe quando tinha apenas 5 anos de idade, e a própria mãe havia pedido ao irmão Fábio que cuidasse de Ana Karolina se algo lhe acontecesse um dia. Fábio lutou pela guarda da sobrinha e hoje cuida de Ana Karolina com o maridão João Paulo. Ana Karolina disse à revista Contigo! que tem dois pais maravilhosos.

Cruel é saber que a igreja católica e os conservadores como o partido PSC prefeririam ver Ana Karolina morando em um orfanato.

O tempo passou na janela e só Carolina não viu

Nesta semana o vice-presidente americano disse publicamente que se sente completamente à vontade com o casamento gay e que acha que os casais gays devem ter os mesmos direitos dos casais heterossexuais. Biden creditou a evolução de seu pensamento à série Will & Grace. Com isto, a pressão para que o presidente Obama passe a defender publicamente a igualdade de direitos aumentou ainda mais.

Por outro lado, o estado da Carolina do Norte vai às urnas hoje para votar o Amendment One - talvez um dos maiores retrocessos na história recente dos direitos civis nos Estados Unidos. Se aprovado, o estado passa a reconhecer oficialmente como unidade familiar apenas os casais formados por um homem e uma mulher que tenham se casado legalmente. Até mesmo os casais heterossexuais que simplesmente moram juntos perdem os diretos adquiridos pela convivência.

O Amendment One da Carolina do Norte é uma das leis mais draconianas e retrógradas da atualidade, e o pior é que a chance de aprovação é muito grande. A redação do texto do referendo é extremamente tendenciosa e foi feita com base na pseudociência lançada por livros de pastores que apregoam que outras formas de unidade familiar causariam a ruína da sociedade. Grande parte dos eleitores estarão saindo de suas casas hoje para votar, pouco cientes de que estarão removendo direitos de famílias e indivíduos, mas convencidos de que estão salvando a sociedade do extermínio. É muito cruel ver algo assim acontecendo em um dos países supostamente mais desenvolvidos do planeta.

domingo, 6 de maio de 2012

Um dia vivi a ilusão de que o voto bastaria

Há alguns dias ouvi alguém dizer durante uma entrevista na TV: "Se quer mudar o país, use o seu voto. Passeata na Paulista não adianta". Um dia eu também vivi a ilusão de que o voto bastaria, mas nada pode estar mais longe da verdade nos dias de hoje.

Ainda acho que o voto deve continuar obrigatório e que todos devem votar de forma consciente. Mas o voto só seria uma arma realmente poderosa se os derrotados fossem automaticamente exilados na ilha de Lost por pelo menos dez anos. Só para ficar com um único exemplo recente: Ideli Salvatti se candidatou a governadora de Santa Catarina. Perdeu a eleição. Mas a mensagem das urnas nunca foi entendida como um "não queremos você!". Muito pelo contrário, Ideli Salvatti é hoje a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, o que pode ser encarado como prêmio e não como castigo.

Enquanto tivermos um sistema que permite que políticos construam carreiras vitalícias e partidos políticos que  fingem não entender a mensagem das urnas, nunca nos livraremos deste problema. Ou alguém acha que Paulo Maluf, Renan Calheiros ou Sarney simplesmente sairiam de cena se perdessem uma eleição?

Por outro lado, cresce a importância das mobilizações populares nas avenidas e nas redes virtuais. A população tem encontrado novos meios de gritar a sua indignação e o efeito tem sido mais imediato. Mas eu ainda acho que deveriam adotar a minha ideia de exílio político na ilha de Lost.

sábado, 5 de maio de 2012

Brega & chique

Hoje meu cunhado fez 50 anos e aproveitou para dar uma super hiper mega festa com toda a família. A festa foi em um antigo solar em Souzas preparada por um buffet de primeira com dezenas de garçons atenciosos. Tudo estava maravilhosamente bem até que chegou a dupla contratada para a música ao vivo. E até o fim da festa foi um desfile da mais fina flor do cancioneiro sertanejo brega em volume insuportável entremeado por sessões de karaokê. E minha família se divertindo tanto que parecia que iam entrar em êxtase.

Ainda estou tentando entender em que ponto minha família foi abduzida e substituída pela família do Tufão. Agora só falta eu descobrir que fui achado em um lixão.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mães pela igualdade



Conheça as Mães pela Igualdade.

Rufus Wainwright

Rufus Wainwright nasceu em uma família musical. O paí, a mãe, as irmãs e o tio são músicos. Neste ambiente Rufus Wainwright deve ter respirado música desde o berço, e aos treze anos de idade já estava em turnê com o grupo The McGarrigle Sisters and Family formado com a mãe e as irmãs.

Rufus Wainwright é gay assumido praticamente desde os seis meses de idade. Eu descobri sua música há cerca de dez anos na trilha sonora do primeiro filme Shrek. O filme tem uma versão linda de Hallelujah (o clássico de Leonard Cohen) cantada pelo John Cale, mas o John Cale não podia aparecer no disco devido a conflitos contratuais. Rufus Wainwright foi convidado para suprir a falta no disco do filme, e a trilha sonora em CD acabou ganhando esta interpretação linda desta música difícil que todo todo cantor que se preza tenta gravar mas que nem todos conseguem.

Rufus Wainwright - Hallelujah:

Outra gravação dele que faz parte da minha trilha sonora é I Eat Dinner (When The Hunger's Gone), da trilha sonora de Bridget Jones - No Limite da Razão, de 2004, cantada em dueto com a Dido. É a música que eu recito mentalmente toda vez que estou jantando sozinho na mesa da cozinha no final de algum dia cansativo enquanto vejo todas as fotos de jantares maravilhosos em lugares sofisticados que meus amigos publicam no facebook. I eat dinner at the kitchen table... I eat leftovers with mashed potatoes... No more candlelight, no more romance, no more small talk... when the hunger's gone.

I Eat Dinner (When The Hunger's Gone) - Rufus Wainwright & Dido:

Rufus Wainwright não para nunca, parece ter uma criatividade quase perturbante. A cada ano vem com lançamentos, músicas e ideias novas. Os fãs agradecem. Esta semana lançou disco novo, e Out Of The Game é mais uma dose de Rufus Wainwright exatamente do jeito que os fãs esperavam: uma delícia! No vídeo de Out Of The Game, a música que dá nome ao álbum, Rufus Wainwright é dublado por Helena Bonham Carter.





terça-feira, 1 de maio de 2012

Gay & Lesbian Elderly


Esta postagem encerra a trilogia Richard Renaldi sobre este fotógrafo americano que descobri há pouco tempo e que me fez viajar e refletir com seu trabalho. Gay & Lesbian Elderly é um ensaio pequeno sobre gays idosos, com apenas 7 fotos, mas que me tomou quase meia hora para percorrer. Fiquei olhando aqueles rostos e estudando cada detalhe, imaginando cada história, cada luta.

Eu tenho um carinho muito especial e um respeito muito grande por idosos. Há pouco tempo um amigo se assustou quando parei o carro em pleno trânsito, liguei o pisca-alerta, e desci para ajudar uma senhora idosa que estava com dificuldade para atravessar a rua. Acho realmente triste como os idosos se tornam invisíveis em um mundo que não lhes dá mais importância.

Existem muitos idosos gays e pouca gente se dá conta deles. Na semana passada observei um senhor aparentando pouco mais de 70 anos almoçando sozinho no restaurante que frequento e tive quase certeza que ele era gay, por uma série de sinais que são invisíveis para a maioria das pessoas. Olhei para o Mr. Ed, que simplesmente me disse "você também notou?".  Fiquei algum tempo imaginando quanta história este senhor deve carregar.

Por algum motivo os gays tendem a ser exacerbadamente vaidosos, com raras exceções. Corpos sarados, abdômens firmes, cabelos da moda, preocupação com o peso, roupa de grife - tudo isto faz parte indissociável do universo gay, e isto não é uma generalização exagerada. Envelhecer neste universo é extremamente dolorido.