quarta-feira, 2 de março de 2011

Os misóginos

Com o mesmo título desta postagem o Tony publicou um artigo brilhante no UOL hoje sobre a aversão a mulheres demonstrada por alguns dos participantes do Big Brother. Rapazes fortes, sarados e machões que provavelmente não são gays, mas que não gostam de mulheres. Tenho certeza que muita gente deve ter achado estranho, alguns talvez até absurdo, por não se darem conta que a misoginia é um sentimento de raízes profundas entranhado na nossa própria cultura. Como outros tipos de preconceito.

Embora nas Américas, na Europa e na Oceania muitas mulheres gozem de liberdade e tenham alcançado posições de poder (nossa presidente é mulher!), em quase todo o restante do mundo a mulher ainda é um ser inferior. E mesmo por aqui algumas mulheres ainda não aprenderam a usar a independência que conquistaram e acabam inconscientemente se infantilizando ou se objectificando para atrair a atenção dos homens.

Embora possa existir muita misoginia também entre os gays, acho que não existe grupo entre os homens para melhor entender as mulheres. Em geral os gays conhecem tão bem as mulheres - para se esquivarem de investidas ou para oferecer solidariedade - que são capazes de se tornarem grandes amigos delas como nenhum hétero consegue. Conhecem-nas tão bem que as enxergam por uma ótica absolutamente diferenciada. O papo de dois gays sobre uma mulher é capaz de revelar perspectivas da mulher que são completamente invisíveis para os homens héteros ou para as próprias mulheres.

Quando eu trabalhava na Arábia, conheci um rapaz saudita em um treinamento que estava radiante com o nascimento do primeiro filho, que seria naquela semana. Eles normalmente não falam nada de esposa, família ou filhos - é muito raro alguém fazer algum comentário sobre a intimidade doméstica. Dois dias depois o rapaz chegou completamente arrasado e todos pensamos que havia acontecido algo de muito trágico no parto da esposa dele. E aconteceu mesmo. A criança era do sexo feminino. O assunto virou tabu e ninguém mais falou sobre isto. Eles ainda vivem uma sociedade de casamentos arranjados, dotes, mulheres tratadas como mercadoria, homens que só convivem com homens embora possam ter até quatro esposas. Eles ririam se alguém falasse de misoginia - para eles, esta é a regra.

3 comentários:

CIELLO disse...

Tinha lido o artigo do Tony e concordo que nossa sociedade é profundamente machista ainda. Li também que mulheres ainda recebem menos que homens nas mesmas funções neste século XXI. Ainda não evoluiremos como sociedade por longos anos. O caminho é longo mas percebo nos jovens atuais uma certa "liberdade" de pensamento a respeito de sexualidade e definição de gênero.

Interessante notar que nossa presidenta teve o apoio maior dos homens do que das mulheres em sua votação para a aleição.

Por fim acho delicado analisar as culturas com a mesma visão ou ótica euro-americana ocidental que estamos acostumados. Contudo observei também em viagem a Turquia que os ditos "orientais" querem ter as mesmas características ocidentais de vida em nossa cultura e, neste caso, sim, podemos fazer uma crítica ao comportamento não convencional que conhecemos.

Sempre de parabéns pelo blog e pelo texto!

Marcelo

Papai Urso do Interior disse...

Só a misoginia explica o porquê de tramas acéfalas com O Clone e Caminho das Índias tenham feito sucesso no Brasil, e o pior: a autora era uma mulher! As protagonistas mulheres não passavam de moeda de troca em qualquer época de suas culturas, relegadas ao anonimato. Se brasileiro ñ gostasse dessa subjugação feminina, esses dois exemplos teriam sido redundantes fracassos de público...

Uma Cara Comum disse...

Sad, but true...