segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ricky Martin, ¿mas o más?

Vazou hoje o novo disco do Ricky Martin Música + Alma + Sexo que tem lançamento oficial previsto para amanhã, 1º de fevereiro. É o primeiro lançamento oficial depois que o cantor se assumiu gay, e vem na esteira do sucesso do primeiro single, o dueto lançado em novembro The Best Thing About Me Is You (Lo Mejor De Mi Vida Eres Tu, na versão em espanhol).

O disco é gostoso de ouvir e inclui desde a balada romântica até a faixa dançante - mas não chega a surprender em nenhum ponto. Basicamente, vai ser adorado pelos fãs e ignorado por quem torce o nariz para o cantor. Provavelmente vai capitalizar um pouco da publicidade provocada pela saída do armário, talvez atrair alguns novos fãs gays e afastar algumas mocinhas ingênuas que ainda tinham a esperança de se casar com o cantor algum dia.

Já escolhi minha música favorita: Cántame Tu Vida. Tem um ritmo gostoso de quase baião e fala de esperança. "Hay un niño sin llanto y sin risa, que anda suelto sin rumbo y sin fé. Lleva dentro una mala semilla que marcó su destino al nacer". Estaria ele falando de si mesmo?  "Caminando por la calle sin piedad, tropezando en la dura realidad..."

Interessante como as iniciais de Música + Alma + Sexo formam um grande MAS sobre a foto do cantor na capa. Seria um "más" para indicar que agora Ricky é mais, vem completo, sem esconder nada? Ou seria um "mas" (sem acento) para lembrar o 'porém' que o cantor carregou durante os 39 anos de sua vida até encontrar o momento certo de fazer as pazes com a sua consciência?

Seja o que for, eu fico feliz que ele esteja passando por este momento. Este homem lindo, talentoso e gay é um ótimo exemplo para as novas gerações, os adolescentes, e até mesmo os mais maduros, que podem se inspirar na sua coragem para lutarem pelo que acreditam.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Deixe-me entrar

Quando a gente achava que já haviam esgotado todos os tipos de tratamentos cinematográficos possíveis para as histórias de vampiros - desde as aventuras açucaradas e assépticas de Edward e Bella em Crepúsculo até a overdose de sangue, suor e sexo de True Blood - eis que chega Deixe-me Entrar (Let Me In, 2010). Baseado no filme sueco Deixe Ela Entrar de 2008, este é primeiramente e basicamente um filme sobre a solidão.

Owen é um garoto de 12 anos que mora com a mãe separada com quem pouco se relaciona. Franzino, frágil e tímido, é presa fácil para os garotos mais fortes da escola onde é vítima constante de bullying violento. Abby é uma garota linda da mesma idade, que acaba de mudar para o apartamento do lado, e vive igualmente só.  A solidão destas duas crianças é tão grande que chega a ser dolorida. A amizade que nasce entre os dois é verdadeira, ingênua, e desinteressada, como quase tudo na vida de garotos de 12 anos de idade.

Não demora muito para a gente perceber que Abby não é uma garotinha normal como parece. Em contraste com as cenas da amizade sincera dos dois garotos há a violência aterrorizante da luta pelo alimento natural das criaturas da noite: o sangue humano ainda quente que jorra da jugular da vítima indefesa.

O diretor Matt Reeves consegue construir a história de forma muito eficiente com poucos diálogos e um clima de suspense constante que chega a níveis sufocantes. É daqueles filmes em que a gente sai do cinema com a impressão que algo vai pular nas costas enquanto caminha para o carro no estacionamento escuro.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Desmancha-prazeres



Lembram quando contavam aquela piada que em Portugal o filme Psicose era chamado de O Filho Que Era Mãe? Isso nunca foi verdade, mas estragar o prazer do filme com o título já não é mais novidade. A equipe do site The Shnitz resolveu brincar com os cartazes de alguns filmes. 127 Horas virou Você Vai Ter Que Aguentar 85 Minutos Até Ele Cortar O Braço, por exemplo.

Mas os meus favoritos foram Lésbicas Também Têm Problemas (Minhas Mães e Meu Pai) e Acontece Que O Cara Que Inventou O Facebook É Um Grandecíssimo Babaca (A Rede Social).

A brincadeira completa pode ser vista aqui.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quem come garralê morre!

Quando pequeno minha minha mãe sempre usava o infalível argumento "Quem come garralê morre!" para fazer a gente sossegar logo após as refeições. Só depois de grande é que fui entender que ela dizia "quem come e agarra a ler morre" para justificar que não devíamos ler ou fazer exercícios mentais pesados depois das refeições pelo risco de congestão. Talvez criada para justificar o costume da sesta, esta crendice popular é incutida nas cabeças das crianças desde cedo, quando ainda não temos massa de conhecimento suficiente para contestar.

Se quem come garralê morresse mesmo, já estaríamos todos mortos neste mundo moderno em que muita gente nem ao menos consegue parar de trabalhar para comer.

A verdade é que muito dos sentimentos de preconceito e homofobia que existem nas mentes dos homens foram incutidos nesta fase infantil em que a palavra dos adultos representa a verdade mais absoluta e inquestionável. Estes sentimentos são fortemente carimbados e sua remoção demanda tempo e paciência. As campanhas inteligentes contra a homofobia trabalham com o lento processo de desprogramação de mentes viciadas por falácias repetidas seguidamente e que acabam aceitas como verdade inquestionável, principalmente porque são reforçadas por dogmas religiosos atrasados.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Eu vejo assim
(ou Você não é tão gordo e velho quanto pensa)

Já foi cientificamente provado que cada pessoa vê o mundo de uma maneira. O que nós pensamos que é o mundo é, na verdade, a nossa interpretação do que estamos vendo, resultado de nossos interesses, conhecimentos, cultura, inclinações, etc. Por isso, diferentes pessoas vão olhar primeiro para partes diferentes do corpo do rapaz da foto, dependendo se a mente está focada em sexo, ou em beleza, ou em decifrar a inversão da posição, coisas assim... A percepção da visão é altamente seletiva.

Ao olhar no espelho é normal que nossos defeitos, ou o que não gostamos no rosto, pareçam muito maiores e mais evidentes do que qualquer outra pessoa vai perceber. Saber disso é um grande alívio, pois significa que ninguém vai nem notar aquela mecha de cabelo fora de lugar que gastamos mais de dez minutos tentando domar naquelas manhãs em que parece que a gente acordou muito antes do cabelo. Significa também que você certamente não é tão gordo ou tão velho quanto imagina.

Eu acho interessante quando esta "seletividade" da nossa percepção fica clara em algum acontecimento. Há cerca de um mês eu fui abordado por uma moça na academia que veio me perguntar toda cheia de charme se eu era casado. Respondi que sim e continuei fazendo o que estava fazendo. Agora o mais interessante é que eu não me lembro mais de absolutamente nenhum detalhe desta moça. Ela provavelmente continua lá malhando do meu lado, talvez me olhando, mas meu cérebro deletou a imagem completamente. Em compensação, eu consigo me lembrar de todos os pequenos detalhes dos rostos e músculos dos garotinhos malhados e bonitinhos que frequentam a academia no mesmo horário, embora nunca tenha trocado uma única palavra com eles.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A vida dos outros

Eu acho uma bolação incrível este formato do Big Brother de confinar um monte de gente em uma casa e deixar todo mundo olhando, mas não consigo assistir. Gosto da ideia, mas o resultado não é para mim. Eu simplesmente não consigo me interessar pela vida dos outros.

Sempre dou uma passada nas notícias para saber o que está acontecendo na casa, até me divirto com um ou outro detalhe picante, e adoro ler os textos do Tony na Folha. Mas minha atenção diária para o assunto não passa de 2 ou 3 minutos, e não consigo me importar nem um pouco com os destinos daqueles ratos de laboratório mostrados em rede nacional.

A quase comoção popular gerada pelo programa é algo que deveria ser estudado. Na edição em que o Jean Wyllys saiu vencedor minha tia de Minas até me ligou pedindo para votar na exclusão do Rogério, o doutor bonitinho e loiro que era "da turma do mal". Mas nesta nova edição conseguiram unir os desinsteressantes com os infantilizados e a mistura parece que não está dando liga por mais que se mexa e apure - continua faltando caldo.

Mas a minha opinião não significa nada. A vida dos outros não me desperta o interesse nem fora da TV. Sou síndico do meu condomínio e muita gente vem me contar um monte de coisas. A maioria das vezes eu as interrompo na metade porque não tenho paciência de ouvir até o final. Na TV é mais fácil: a gente muda de canal ou desliga o aparelho.

O Brasil é um lixo

Ninguém achava mesmo que o filme sobre o Lula tinha alguma chance de ser indicado para concorrer ao Oscar. Acho até que se alguma coisa acontecesse errado e o filme recebesse a indicação eu morreria de vergonha.

Mas um brasileiro muito ilustre vai estar presente na festa. Vik Muniz mora em Chicago há vários anos, mas é nascido em São Paulo e tem uma carreira extraordinária como artista plástico. Vik consegue obter efeitos visuais impressionantes com materiais incomuns como macarrão, chocolate, arames, açúcar, ou barbante. Seu trabalho mais conhecido no Brasil talvez seja a montagem feita para a abertura da recém terminada novela Passione.

O trabalho de Vik Muniz com catadores de um lixão inspirou o documentário "Lixo Extraordinário" (Waste Land) dirigido pela inglesa Lucy Walker em co-produção entre o Brasil e Reino Unido. O longa-metragem, totalmente rodado no Brasil, já ganhou vários prêmios internacionais e tem chances sérias de receber o Oscar de melhor documentário.

Há 7 anos atrás Vik Muniz fez uma apresentação nos seminários do TED, na California. Uma boa oportunidade para conhecer o homem por detrás da arte:

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Doritos 2: A Vingança

Quem não se lembra da polêmica do comercial homofóbico do Doritos no Brasil? A vingança veio em alto estilo. Pena que tenha sido só nos Estados Unidos. Mas como a internet não tem fronteiras...

As marcas Doritos e Pepsi lançaram a super campanha Crash The Super Bowl para qualquer pessoa criar um comercial que poderá ser exibido durante o Super Bowl. A votação acontece pela internet no site da campanha, onde todos os comerciais enviados podem ser vistos. Os dois comerciais gays não estão entre os finalistas, mas a vingança foi doce:



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Confissões de um garoto tímido

Eu fui uma criança tímida durante toda a infância. Extremamente tímida, a ponto de muitas vezes sofrer de complexo de inferioridade. Achava todo mundo sofisticado, bonito, desembaraçado e bem-articulado, e isto só me fazia retrair ainda mais. Em compensação, sempre fui excelente aluno. Em todo o primário, ginásio e colegial nunca tirei nota que não fosse 10. Recebia prêmios da escola no final do ano e era sempre citado como exemplo.

Acredito que muitas vezes minha timidez tenha sido creditada à minha suposta "genialidade". "Ele é muito inteligente, por isso é assim meio esquisito" eu ouvi mais de uma vez. Acho que ninguém nem desconfiava que de gênio eu não tinha nada. O que eu tinha, isto sim, e que me ajudava bastante, era uma memória realmente prodigiosa. Nunca precisei estudar para provas ou exames - ao ler as questões me lembrava perfeitamente das explicações dadas em sala de aula.

A minha posição de melhor aluno da turma e da escola sempre me trouxe respeito dos colegas. Atravessei todos os anos escolares sem qualquer problema de assédio ou intimidação, exceto um eventual "mariquinha! mariquinha!" na hora do recreio no curso primário. Mas isto não tinha uma conotação sexual muito pesada - era mesmo só uma palavra que as crianças da minha época usavam para ofender e machucar. Tinha muito mais o significado de "fracote" do que de "veado".

Só na adolescência percebi que era muito mais diferente dos garotos da minha turma do que eu imaginava a princípio. Criei subterfúgios para que minhas diferenças não fossem percebidas. Sofri sozinho, muitas vezes chorei sozinho.

Hoje, já homem feito e de barba quase branca, é que me dou conta que meus defeitos não eram aqueles que me assombraram  na adolescência. Aquelas eram as minhas qualidades, as que me diferenciavam de todos os outros homens comuns, as que faziam de mim um homem especial. Não tenho mais aquela memória prodigiosa para me ajudar, mas também não preciso mais dela. Ainda choro às vezes, mas não mais por mim, e sim pelos outros. Hoje é a mediocridade do mundo que me entristece.

Meus pais nunca me censuraram e passaram toda a minha vida me dizendo como me amariam incondicionalmente de qualquer jeito que eu fosse, mas só muito recentemente eu consegui entender o quê eles estavam me dizendo. Ainda bem que eles ainda estão comigo, mesmo arcados pelo peso dos anos, e eu posso agradecê-los a cada dia por terem feito de mim o que eu sou. Por que eu tenho muito orgulho do que eu sou.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Glad for GLAAD

Os Estados Unidos são o país da especialização. Eu costumava me maravilhar com a quantidade de publicações de revistas especializadas vindas dos Estados Unidos até os anos 80, antes de nosso setor editorial começar a crescer. Tinha revista sobre todos os gostos, hobbies e particularidades.

Na luta pelos direitos GLTB também é assim. Existem entidades para arrecadar fundos, organizações que lutam especificamente pela derrubada da Proposição 8, campanhas para a conscientização de adolescentes gays. No meio desta miríade de entidades tem a GLAAD, a Gay & Lesbian Alliance Against Defamation, que cuida especificamente de garantir que a visão dos gays retratada na mída seja positiva. Lembra do caso do comercial homofóbico do Doritos? Então, se fosse lá, era a GLAAD que ia encabeçar a ação contra o comercial.

A GLAAD apresenta um prêmio anual, o GLAAD Media Awards, que destaca as melhores representações positivas de gays na mídia americana no ano, e na semana passada foram apresentados os indicados (a listagem está aqui). Entre as várias categorias, que incluem filmes, séries, artigos de jornal, documentários, e até coberturas jornalísticas, existe uma bastante interessante: "melhor episódio de talk show". Com isto eles conseguem premiar um episódio específico em um formato de programa que é tradicionalmente irregular e normalmente traz entrevistas boas e outras nem tanto ao longo do ano.

Na categoria de melhor episódio de talk show concorrem a entrevista de Constance McMillen no programa da Ellen DeGeneres (Constance é a adolescente lésbica que brigou para levar a namorada na festa de formatura), a entrevista de Neil Patrick Harris no show The Talk, a entrevista Rebuilding Home After Tragedy apresentada no The Nate Berkus Show, a entrevista sobre crianças com disfunção de gênero apresentada no Dr. Oz Show, e a entrevista de Ricky Martin após se assumir apresentada no programa da Oprah Winfrey. As apresentações indicadas são espetaculares e inspiradoras, e quase todas estão disponívels no YouTube (é só clicar no link).

A GLAAD fez também um vídeo curto para apresentar todos os indicados:

sábado, 22 de janeiro de 2011

Elton sem rodeios

Mensagem de Elton John na abertura do show da última quarta-feira para arrecadação de recursos para a American Foundation for Equal Rights: "Eu não consegui tudo, porque ainda não consegui o respeito de instituições como a Igreja ou de políticos que dizem que eu não sou digno ou que eu valho menos porque sou gay. Então, QUE SE FODAM eles!"

Para quem há cinco anos atrás nem apoiava a igualdade no casamento e achava que só a união civil era suficiente Elton John tem feito progresso. Sempre é tempo para rever conceitos e evoluir.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A liga do bem

Na última quarta-feira a American Foundation for Equal Rights promoveu um show com Elton John para arrecadar recursos para a luta pela igualdade de direitos na Califórnia. A liga do bem compareceu em peso para ajudar na campanha e aproveitou para deixar seu depoimento neste vídeo curto.

Jason Mraz está cada vez mais gracinha. É tão simpatizante que já é quase um gay que gosta de mulher. Tenho todos os discos e sou fã de carteirinha. Se pudesse eu levava ele pra casa. O melhor é que eu acho que ele vinha. Ele tem cara de facinho, facinho....

Marisa Tomei estava mesmo meio sumida e é sempre bom aproveitar uma boa causa para fazer um socialzinho.

Ted Olson já é um dos maiores advogados do mundo. Quando ele fala que a mudança das opiniões é tão visível "que é quase como ver as flores desabrochando na primavera..." eu me dei conta de como faz bem ficar em contato com um monte de gays. Ele já está falando como um de nós!

Rob Reiner é um dos fundadores da American Foundation for Equal Rights. Ele e Tom Hanks, que são amigos, estão entre os maiores doadores para a derrubada da Proposição 8 na California.

Jeff Zarrillo e Paul Katami juntamente com Kris Perry e Sandy Stier são dois casais gays autores da ação que tenta derrubar a Proposição 8. Formam casais muito gracinha, como diria a Hebe.

Yeardley Smith é a dubladora que faz a voz da Lisa Simpson no desenho animado. É fechar os olhos e a gente tem a impressão que é a Lisa dando o depoimento. Muito estranho.

Jane Lynch e a esposa Lara Embry são um doce na frente das câmeras. Será que em casa baixa a Sue Sylvester nela?

E Adam Lambert ainda está falando da saída do armário?! Hellooo. Justamente agora que ele está no meio do processo de virar mulher?

E o que dizer de Bruce Vilanch? Cada vez tenho mais a certeza que ele é o filho perdido de Mamma Bruschetta com Rony Cócegas!!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Comendo pelas beiradas

No ano passado a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional surpreendeu muita gente ao emitir o parecer 1.503/10 dando sinal verde para que casais homoafetivos em união estável declarassem o companheiro como dependente legal para fins de imposto de renda. No início de janeiro o Conselho Federal de Medicina flexibilizou as regras que regem a reprodução assistida no Brasil permitindo que casais gays e pessoas solteiras recorram ao procedimento. Em fevereiro próximo o Supremo Tribunal Federal deve votar ação que estende o regime jurídico das uniões estáveis aos casais do mesmo sexo.

Engana-se quem pensa que estas medidas são resultado de reuniões apressadas acontecidas nas semanas que antecederam os anúncios. São, na verdade, resultado de anos de debates, considerações e análises seguidos do lento trâmite legal típico da justiça brasileira e também de outros países. Nos Estados Unidos não é muito diferente. A recente derrubada do "Don't Ask, Don't Tell" e a luta em andamento para reverter a "Proposição 8" na Califórnia comprovam o lento caminho que algumas medidas são obrigadas a percorrer até que a população possa usufruir de seus efeitos.

Para se entender o que pode sair do Supremo Tribunal Federal no próximo mês, por exemplo, é preciso recorrer ao distante ano de 2008. Este artigo publicado na VEJA em julho daquele ano é bastante elucidativo. Notem que a reportagem abre com "O STF se prepara para decidir, pela primeira vez na história, sobre..." Esta "preparação" durou quase 3 anos - praticamente uma eternidade nos dias de hoje.

Quando se compreende a lentidão necessária para a mudança de procedimentos há muito arraigados nas leis nacionais, é alentador folhear o plano BRASIL 2022 preparado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (obrigado, Oscar Fergutz, pela ótima dica!!), que pode ser acessado aqui. Lá na página 82 o plano lista uma meta importantíssima: "superar todas as formas de discriminação contra a população LGBT". 2022 pode parecer longe e a gente tem muita pressa, mas é preciso começar de alguma forma. O plano BRASIL 2022 tem legitimidade porque envolveu grupos de trabalhos formados por técnicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), representantes de todos os Ministérios, da Casa Civil e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É portanto um documento técnico isento de viés religioso ou de crenças individuais.

Para mim, o caminho das conquistas LGBT no Brasil já está bem desenhado, e passa longe do nosso Congresso dominado por lideranças religiosas atrasadas e pelo fisiologismo vergonhoso. Nossas vitórias serão conseguidas pelo Judiciário, pelos departamentos técnicos dos Ministérios, e pela própria Medicina (que já há alguns anos concluiu que homossexualidade não era doença). É um caminho sem volta de uma viagem que já começou. E alguém avise ao Sr. Bolsonaro que se ele não gostar, que coma menos.

Sociedade de consumo voraz

É quase assustador perceber como é reduzido o poder de permanência de um lançamento musical hoje em dia. Há algumas décadas atrás um artista lançava um disco a cada ano ou dois, e o album era trabalhado, tocado, ouvido, dissecado durante toda a temporada até o próximo lançamento. Dava tempo para a gente decorar as músicas e absorver a personalidade do trabalho.

Nos dias de hoje há um lançamento e a gente mastiga, come, e engole o produto em alguns dias. Algumas semanas depois o CD já está "velho" e todo o mundo já está celebrando os novos sucessos da parada. A concorrência é muito grande, o acesso é muito fácil, o mercado é muito voraz e os sucessos muito efêmeros. A fila anda muito depressa. Depressa demais. Um cantor que se ausente do mercado por alguns anos corre o risco de ficar esquecido e obsoleto. CDs de menos de um ano atrás já estão virando porta-copos.

Sade lançou Soldier of Love no começo do ano passado depois de uma ausência de quase uma década do mercado. O lançamento era amplamente aguardado, mas foi esquecido com a mesma velocidade em que veio. Teenage Dream da Katy Perry saiu em agosto e parece que já faz um século. Madonna parece que não lança nada novo há uma eternidade - as músicas do último disco já estão velhas. Até parece que o mundo está girando mais depressa.

Amiga insensata

O suspense sobre o desenrolar do tão esperado núcleo gay de Insensato Coração continua. As primeiras notícias falam até de um personagem homofóbico que será interpretado por Cássio Gabus Mendes e que no final acaba se apaixonando por um rapaz. A se confirmar, vai ser realmente interessante ver a realidade do homofóbico que se revela gay enrustido.

Por enquanto tem sido no mínimo engraçado acompanhar o personagem Roni interpretado por Leonardo Miggiorin. Na cena de ontem ele tem uma paquera de academia arruinada pela amiga sem-noção Natalie (Débora Secco). Quem nunca passou por uma saia-justa destas que atire a primeira pedra.





quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Final feliz

Armando Babaioff
No futuro, a Globo deveria recortar da novela Ti-Ti-Ti o drama do personagem gay vivido pelo André Arteche e transformar as sequências em um filme. O roteiro de Maria Adelaide Amaral, com um núcleo de personagens críveis e diálogos realistas, projetou uma trajetória formidável para o personagem.

Julinho perdeu o companheiro Osmar em um acidente de carro logo no início da trama. Enfrentou o preconceito amargo da família do namorado. Com atitudes dignas venceu o preconceito e conquistou a todos. Confessou sua paixão pelo amigo médico que se revelou hétero mas não o rejeitou, virando melhores amigos.

Toda esta história está sendo contada com cenas impagáveis. Uma das mais significativas foi quando a mãe (Giulia Gam) do Osmar descobre o diário do filho morto e lê sobre o sofrimento do garoto no colégio aos 14 anos de idade apanhando dos colegas e sendo alvo de gozações, e seu medo de decepcionar os pais. Pai e mãe se dão conta de toda a angústia que o filho viveu na infância. No mesmo dia eles mostram o diário ao outro filho. A família percebe o quanto Julinho e Osmar eram felizes e vai lhe pedir perdão e acolhê-lo novamente na casa. Cada vez que revejo estas cenas eu choro mais uma vez.

Só faltava o personagem reencontrar o amor. E Maria Adelaide Amaral não dá ponto sem nó. Na reta final da história Julinho vai conhecer Thales (Armando Babaioff), vão se apaixonar e ser muito felizes. Logo a novela passará a mostrar as sequências do primeiro encontro e do início do namoro. Valeu esperar. Já estou com inveja do Julinho.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um Deus implausível

Do meio de toda grande tragédia sempre emergem as histórias de pessoas que sobreviveram de forma inexplicável seguidas de agradecimentos à benevolência divina. O que eu não entendo é como estas pessoas não param um único minuto para raciocinar e ver que o mesmo Deus que elas acreditam tê-las salvado foi quem comandou o deslizamento, as chuvas, o terremoto, a inundação, e as mortes das milhares de outras pessoas por quem ele não foi capaz de sentir a mesma piedade. Se ele realmente existe sua reputação não é das melhores.

Mas não. As pessoas que acreditam em Deus vêem sua intervenção na forma que lhes é conveniente. Quando admiram um lindo pôr-do-sol ou um campo de trigo pensam logo na belíssima obra de Deus. Mas não conseguem equacionar "obra de Deus" com a visão de uma cidade assolada por um terremoto ou com a pilha de cadáveres retirados de um deslizamento. Muito conveniente.

Tom Honey era padre há mais de vinte anos na Igreja Anglicana. Era famoso por suas pregações inspiradas. Até que na semana do tsunami na Ásia se viu obrigado a responder à pergunta "por que?" para uma congregação lotada de fiéis. E subitamente percebeu que até então havia acreditado em um Deus absolutamente implausível. Seu relato é comovente:

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Adele 21

Quando esta inglesinha surgiu há 2 anos atrás e subiu nas paradas com Chasing Pavements, não faltaram rótulos que iam desde "a nova Amy Winehouse" até "musa da invasão britânica às paradas americanas", feito que dividiu com Duffy e Leona Lewis. Adele 21 (o número correspode à idade da cantora), que segue Adele 19 lançado em 2008, está programado para chegar às lojas na última semana de fevereiro mas vazou hoje na internet na versão especial com duas faixas bônus.

Adele 21 é um disco de muita força. Dá a impressão que a cantora gravou cada faixa com muita vontade. Músicas como Someone Like You e Lovesong (ouça abaixo), por exemplo, são lentas e ao mesmo tempo carregam uma grande carga de energia. O single de Rolling In The Deep, que abre o disco, foi lançado no final do ano passado e já demonstrava o turbilhão que estava por vir.

Neste momento em que o mundo parece estar se cansando das macaquices da Amy Winehouse e do desrespeito com que ela trata seu público, novas cantoras com soul na voz chegam para lembrar que a fila anda depressa.

Adele - Lovesong:



O ano de Chris Colfer

2010 foi o ano de Chris Colfer, o ator que faz o rapazinho gay Kurt Hummel vítima de bullying em Glee. Com apenas 20 anos, gay também na vida real, Chris passou por quase todos os programas de entrevistas nos Estados Unidos durante o ano dando uma mostra de seu desembaraço e senso de humor e servindo de inspiração para milhares de adolescentes.

Ontem Chris Colfer foi consagrado no Globo de Ouro com o prêmio de melhor ator coadjuvante em série (todos os indicados e ganhadores podem ser conferidos aqui). E Jane Lynch, que em Glee faz a treinadora Sue Sylvester, também gay na vida real, levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante em série. Glee levou o prêmio de melhor série.

Embora o Globo de Ouro não tenha fama de corrigir injustiças, o prêmio de melhor série a Glee teria sido melhor justificado no ano passado quando a série estreou arrebatando todos com a novidade dos números bem montados de canções populares. Na segunda temporada a série perdeu bastante do pique inicial, as histórias individuais dos personagens quase se perderam no meio das desculpas para se montar um número musical desta ou daquela música, e o próprio personagem de Jane Lynch perdeu gás. Mas nunca é tarde para comemorar a inovação trazida pela série.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Peter Bradley Adams

Peter Bradley Adams respondia por metade da dupla eastmountainsouth que abriu vários shows para Lucinda Williams, Nelly Furtado, Tracy Chapman e Joan Baez, e já tem quatro discos lançados desde que iniciou carreira solo em 2005.

Perambulou pela Europa e pela India durante algum tempo colecionando experiências que foram transpostas para suas composições, e se considera um "cigano relutante", insistindo que por baixo de toda a calma inspirada por suas canções existe uma tensão latente, um desejo constante, uma inquietação.

A música de Peter Bradley Adams se encaixa como uma luva nas trilhas sonoras para momentos íntimos e pessoais, para curtir a dois ou para distrair a dor da saudade.

 

A tragédia gráfica

   Cena de salvamento em Nova Friburgo, da galeria de imagens do G1
Uma das coisas que chamam a atenção na catástrofe da região serrana do Rio, e que também pode ser observada nas últimas grandes tragédias que afligiram o mundo, é a quantidade de fotos e vídeos detalhados, tanto de amadores quanto dos profissionais da mídia, que possibilitam que qualquer pessoa tenha uma visão exata da dimensão do desastre. Como quase todo mundo tem um celular equipado com câmera nos dias de hoje, os grandes eventos podem ser cobertos por cinegrafistas amadores - muitas vezes protagonistas ou participantes que acabam cobrindo o próprio drama.

Uma tragédia muito parecida aconteceu em março de 1967 em Caraguatatuba, que oficialmente só contabilizou menos mortos porque não havia registros da população rural que desapareceu. Vilas inteiras foram soterradas com suas populações, e até um ônibus lotado de passageiros simplesmente desapareceu. Como as comunicações na época eram mais precárias, de imediato ninguém se deu conta do que estava acontecendo. Pessoas que tentavam acessar a cidade e topavam com estradas ou pontes caídas voltavam com a notícia que o acesso estava impedido, mas ninguém tinha a menor ideia sobre o que estava se passando do outro lado. A inquietação começou a aumentar depois de alguns dias, até que começaram a chegar alguns relatos transmitidos por rádio-amadores que começavam a desenhar o tamanho da tragédia. As notícias chegavam em doses homeopáticas que suavizaram o impacto do evento. A hecatombe aconteceu no dia 18 de março, mas só no dia 13 de abril é que um carro do DER e outro do grupo Estado conseguiram pela primeira vez chegar até a cidade saindo do Vale do Paraíba.

Um dos primeiros grandes eventos da nova era da mídia que eu me lembro foi a operação Tempestade no Deserto. Era a guerra transmitida em tempo real. A guerra online. E de lá pra cá as coberturas ficaram ainda mais eficientes. Todo mundo viu o vídeo do exato momento do terremoto no Haiti com a cidade virando poeira vista do alto de um morro. Há na internet cenas espetaculares do tsunami da Ásia feitas por turistas e moradores. O desabamento das torres gêmeas do WTC em Nova York pode ser visto de vários ângulos. O vídeo impressionante da senhora sendo salva da enchente por uma corda em São José do Vale do Rio Preto foi parar na capa do New York Times no mesmo dia. Até desastres menores, como o caso das agressões homofóbicas na região da Paulista, tiveram impacto e reviravoltas por conta das imagens gráficas inquestionáveis.

Neste mundo cada vez mais plugado qualquer sala de estar com uma TV e uma conexão com a internet se transformam em uma espécie de "sala de situação" de guerra.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De homens e bichos

A maioria dos meus amigos gays em relacionamentos estáveis tem animais de estimação, geralmente cachorros. Eu acho um barato ver o relacionamento deles com os bichos e como os dois lados vão se transformando ao longo do tempo e ficando cada vez mais parecidos.

Às vezes também me surpreendo com algumas confusões. Já vi bichinhos de estimação sendo tratados como se fossem namorados (até com beijinhos na boca) e namorados sendo tratados como se fossem bichinhos de estimação (só faltando a coleira para completar o quadro). Estes relacionamentos disfuncionais de homens com seus bichos me dão um pouco de pena; sinto pelos dois lados.

A caminho do Rio na semana passada eu me surpreendi com o homem que viajava de moto com seus dois cachorros. Mas a surpresa maior foi no Aterro do Flamengo no domingo de manhã. Havia lá uma senhorinha com um galo de estimação amarrado a uma coleira usando uma fantasia patriota. E toda vez que a mulher incitava o galo a cantar, o galo cantava a plenos pulmões! Já dizia Éxupery que "quando o mistério é muito impressionate a gente não ousa desobedecer". Aproximei-me dela com a maior naturalidade e perguntei pelo nome do "amigo". Era Paquito. Tinha até um sobrenome estranho, que soava meio espanhol, mas eu esqueci.

No almoço daquele dia eu comi frango. Deve ser muito estranho ter um animal de estimação que muita gente enxerga como comida.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Tragédia, horror, estilo


Eu estou horrorizado com as cenas da tragédia da chuva na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Assisti ao Jornal Nacional ontem e depois quase não consegui dormir. Um horror. Vieram-me à mente as cenas da devastação de São Luiz do Paraitinga há um ano atrás - um lugar que eu costumo frequentar e cuja destruição me tocou bastante.

Por mais que as causas sejam conhecidas - ocupação inadequada do solo, descaso das autoridades, forças naturais em níveis imprevistos - a tragédia não fica menor. As cenas de salvamentos heroicos e os depoimentos de quem perdeu tudo são por demais comoventes. É impossível conceber a dor de quem viu a família e todos os bens despencarem em uma enxurrada de lama.

O evento trágico está servindo para se conhecer melhor o estilo da presidente Dilma. Dá para notar uma certa falta de traquejo nas primeiras declarações improvisadas no local da tragédia, mas é possível notar também bastante discrição - o que é bom. O antecessor não teria perdido a oportunidade de usar os holofotes para gastar a garganta e se autopromover frente a uma tragédia "nunca antes vista neste país". Eu estou começando a gostar muito da discrição da Dilma. Todos disseram, inclusive eu, que ela não tinha o carisma de Lula. Acho que estávamos confundindo carisma com falastronice.

Eu entubo, tu entubas, ele entuba

"Esses gays e lésbicas querem que nós [heterossexuais], a maioria, entubemos como exemplo de comportamento a sua promiscuidade". Com esta frase empolada o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) condenou a campanha organizada pelo Ministério da Educação para combater a homofobia nas escolas. "Me dá nojo!" completou o deputado, depois de conhecer o material da campanha.

A campanha está em fase de finalização e é composta de 5 vídeos preparados para exibição em escolas de ensino médio. Especialistas, além de uma comissão de pasta, analisarão os vídeos antes da aprovação. Mas a campanha contra, liderada pelos deputados da bancada evangélica, já está a pleno vapor.

Estou me contendo muito para ser educado e escrever um texto informativo, mesmo porque ainda nem tomei a minha dose de cafeína para iniciar o dia. Mas a minha vontade é mesmo mandar estas antas tomarem no cu sem muita cerimônia.

Em primeiro lugar, por que "entubar"? Segundo o Aurélio, entubar pode ser "entregar-se sexualmente a uma penetração anal" ou "introduzir o pênis em", mas confesso que não entendi como esta alusão pornográfica se aplica à frase da anta em questão. 
Em segundo lugar, o que um deputado tem a ver com uma campanha do Ministério da Educação?

Socorro, Maria do Rosário! Socorro, Hillary! Agora vamos ver para que lado a corda arrebenta.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amou daquela vez como se fosse a última...

Amor em 4 Atos apresenta 4 histórias curtas baseadas em músicas de Chico Buarque. Fica no ar só esta semana, até sexta-feira, com quatro episódios que trazem histórias diferentes, apresentado logo após o Big Brother Brasil. No episódio de ontem, a mocinha que faz cinema (Marjorie Estiano) e mora em frente à Estação da Luz se apaixona pelo pedreiro gostosão (Malvino Salvador) que está cuidando da reforma do apartamento no andar de cima, pensando que ele é o dono do apartamento. Muitíssimo bem feito, com uma história adulta bem contada, o episódio lembrou muito As Cariocas - o que é uma coisa muito boa. Poderia até ser o primeiro episódio de uma série parecida, As Paulistas.

O episódio de ontem foi baseado nas músicas Ela Faz Cinema e Construção. Reveja abaixo a cena em que a mocinha sai de casa disposta a acabar com a barulheira no apartamento de cima mas muda de ideia por puro tesão. Até eu que sou mais bobo faria o mesmo. Malvino Salvador está batendo um bolão!

Yes, she can

Se no Brasil a luta pelos direitos da comunidade LGBT vai ser capitaneada pela ministra Maria do Rosário da Secretaria dos Direitos Humanos, nos Estados Unidos a responsabilidade cabe à secretária de estado Hillary Clinton. E os colegas de lá parecem bastante satisfeitos com a escolha.

Hillary Clinton é conhecida pela tenacidade e perseverança, e é muito competente no que faz. Em um dos últimos encontros com representantes LGBT surpreendeu a todos com seu conhecimento profundo sobre a realidade dos gays nos Estados Unidos e no mundo. A revista The Advocate elegeu Hillary Clinton para estampar a capa da edição de janeiro, e traz uma ampla reportagem sobre a atuação positiva da secretária de estado em prol da causa LGBT.

Há duas semanas Hillary Clinton esteve no Brasil para a posse da presidente Dilma. No dia seguinte, em audiência com a presidenta recém empossada, Hillary pediu a ajuda do Brasil na luta contra a homofobia no mundo. O plano de Hillary é encarar a luta pelos direitos LGBT como uma luta por direitos humanos. "Direitos gays são direitos humanos", diz ela.

Esta nova perspectiva cria um paradigma muito interessante porque a luta por direitos humanos já é universalmente aceita e compreendida pela população. E com isto a Igreja acaba entrando em uma sinuca de bico. Como uma instituição explicaria sua posição contra a defesa de direitos humanos?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

=

Ricky Martin saindo do armário foi um dos grandes eventos do ano passado, mesmo que não representasse novidade para muita gente. Mas o melhor é poder contar, de agora em diante, com um grande ativista na luta pela igualdade, como ele mostra em seu primeiro vídeo depois de se assumir. É isso aí, Ricky!!

A fórmula do amor


Todo mundo sabe que não existe uma fórmula do amor nem manual de sobrevivência para relacionamentos. Existem, isto sim, milhares de livros de autoajuda que são escritos para pessoas de pouca imaginação por pessoas de muita esperteza - mas a grande maioria destes não pode nem ser levada a sério. Por isso é normal que a gente tente aprender com os relacionamentos reais bem sucedidos, usando a experiência dos outros não como receita infalível mas como inspiração.

Quando eu conheço um casal feliz eu gosto de conhecer a história por trás da convivência. Como se conheceram, como vivem no dia a dia, como superam as diferenças, como se controlam naqueles momentos de exasperação em que um tem vontade de enforcar o outro.

A revista OUT está lançando uma edição especial para celebrar o amor, com histórias inspiradoras de 23 casais reais.  Na capa, Tom Ford e Richard Buckley. Tom descreve como eles se conheceram, como foram os primeiros encontros e o início do relacionamento em um mundo assombrado pela AIDS. Richard diz que Tom é exatamente o mesmo homem de quando se conheceram há 24 anos.

A reportagem inclui também as impressões de Ed Droste, da banda Grizzly Bear, que se lembra em detalhes do pedido de casamento do companheiro Chad McPhail durante uma conexão na Polinésia Francesa.

São 23 histórias deliciosas de cumplicidade, compartilhamento, paciência, entrega, romantismo, e alegria. Talvez sejam justamente estes os ingredientes da fórmula do amor.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Probabilidades

Estatisticamente falando, qual é a probabilidade de uma pessoa do interior de São Paulo que raramente vai ao Rio encontrar por acaso no topo do Pão de Açúcar com um amigo que mora há mais de 20 anos no Canadá e que está passando as férias no Brasil com o marido canadense? Aconteceu na última sexta-feira, e a surpresa foi ótima! Dudu Dean, foi demais! Se tivéssemos combinado não teria dado tão certo. Escutar alguém chamando meu nome no topo do Pão de Açúcar foi surreal, e o encontro foi inesquecível.

Em Londres costumam dizer que se você ficar uma hora sentado em Picadilly Circus vai ver o mundo todo passar na sua frente. E eu começo a achar que o eixo de rotação do Brasil é no Pão de Açúcar.

Só espero não ter com isto esgotado as minhas chances de realização de probabilidades raras. Eu ainda pretendo ganhar na loteria.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Correndo contra o relógio

O motivo principal da minha ida ao Rio de Janeiro neste final de semana não foi turismo. Foi a etapa carioca da corrida Circuito Sol Net. Não, eu não corro nem para chegar até o carro na chuva. Já o Mr. Ed coloca  corrida e natação entre as três coisas que ele mais ama.

A corrida foi no Aterro do Flamengo hoje, domingo, com início pontualmente às 8 da manhã. O que significou acordar antes das 6, tomar café da manhã às 6 e meia, e chegar ao local antes das 7 e quinze. E ir para a cama na noite anterior antes das 10 num sábado de verão no Rio de Janeiro!

Foi interessante cruzar, no caminho para o Aterro hoje de manhã, com o pessoal que voltava das baladas. Muita gente cambaleante, despenteada, com cara de usada, olhos vidrados, ainda com uma latinha de cerveja na mão. A luz do dia é extremamente cruel com algumas pessoas, tirando-lhes o glamour que a luz artificial de uma boate consegue criar.

A geração saúde que estava no Aterro, o sol delicioso bem cedinho pela manhã, o cheiro de café fresco, os rostos corados, tudo ajudou a passar o tempo que fiquei esperando até o Mr. Ed cruzar a linha de chegada 10 km depois da largada. Ele chegou ofegante e molhado de suor, mal conseguia falar. Mas não era preciso nenhuma palavra para decifrar a alegria no seu rosto.

Rio 40 graus


Toda cidade tem uma personalidade própria que pode levar alguns dias, às vezes até semanas, para ser desvendada. Mas a do Rio de Janeiro fica escancaradamente clara desde os primeiros minutos. Algumas horas na cidade e a gente já percebe a informalidade generalizada, uma certa malemolência no falar, no andar, e no parar com o corpo encostado. O conceito de privacidade aqui é muito relativo - não me lembro de ter estado em outro lugar onde as pessoas "entrassem" na conversa que você está tendo com seu companheiro assim sem a menor cerimônia, seja no metrô, no ônibus, ou até andando na rua.

Os contrastes convivem harmoniosamente. Não só mar com morro, cidade com favela, mas também no povo. Pela cidade circulam as pessoas de corpos mais lindos talvez no mundo, ao lado das pessoas mais sem noção de estilo. Vi um rapaz de corpo tão perfeito que quase entrei em transe por alguns segundos. Ele deve passar todo o tempo acordado malhando, comer apenas uma folha de alface em dias normais, duas em dias festivos, e certamente não conhece o significado da palavra Häagen-Dazs. Vi um senhor de longa cabeleira branca em rabo-de-cavalo com também uma longa barba branca amarrada em dois pontos em trança, usando um short curtíssimo que parecia sobrar sobre suas pernas esqueléticas. As duas visões eram de tirar o sono,  por razões opostas.

Vi também uma garota loira tão bonita, mas tão bonita, que pela primeira vez eu entendi o significado da expressão "beleza estonteante". E uma senhora de uns 70 anos e maquiagem ultra mega exagerada e um cabelo que parecia que ela tinha chegado de moto sem capacete - um susto!

Em um final de semana com muito sol e céu azul, quem gosta de fotografar como eu quase tem um surto. O calor deixa a gente meio desacorçoado, mas todo o resto compensa. A cidade é um êxtase para qualquer turista.




sábado, 8 de janeiro de 2011

O último beatnik

Ontem, sexta-feira, vindo para o Rio de Janeiro. Eu não vinha ao Rio há mais de 4 anos. Paramos em um posto meio xexelento na altura de Volta Redonda para comprar água, por volta do meio-dia. E eis que para do lado do meu carro um senhor pilotando uma motocicleta Yamaha DragStar 1100.

O que mais me chamou a atenção foram seus dois companheiros de viagem: um casal de cachorros vestidos com couro,  usando capacete e óculos, que pareciam completamente à vontade. Ele me disse que a viagem iniciara em Porto Alegre, e que estavam indo para Niteroi.

Eu nunca tinha encontrado antes com um beatnik de verdade.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Insensata Passione

Novela das 8, mesmo quando é ruim, vira assunto nacional. Principalmente quando está no final. Silvio de Abreu já escreveu maravilhas como Guerra dos Sexos e A Próxima Vítima mas errou a mão em Passione. O enredo não tem nenhum compromisso com a verossimilhança e quase nenhum personagem é crível. Até a grande Fernanda Montenegro passa o tempo todo só fazendo cara de rica fina e repetindo "isso não pode ser possível!". A maioria dos personagens tem um sotaque irritante. Eles só não ganham o troféu máximo de sotaque irritante porque esta posição vitalícia é da Susana Vieira desde Senhora do Destino.

Mas parece que o Silvio de Abreu está reservando surpresas para a última semana. Eu arrisco um palpite: Vão descobrir que Clara (Mariana Ximenes) tem uma psicopatia herdada da mãe Flora (Patrícia Pillar) - aliás, as duas estão mancomunadas mas isso só vai ser revelado no último capítulo. Bete Gouveia (Fernanda Montenegro) vai perder tudo no final da novela e terminar seus dias escrevendo cartas para analfabetos que passam pela Estação Central do Brasil. Totó (Tony Ramos) não morreu. A cada vez que tentam matá-lo ele vira dois, e já tem dois destes clones morando em Portugal que atendem pelos nomes de Quinzinho e João Victor, um morando na Índia que atende por Opash e um morando na Grécia que atende pelo nome de Nikos. No último capítulo todos vão se encontrar por acaso na sala de espera de uma clínica de depilação masculina em São Paulo. Gemma (Aracy Balabanian) vai sair em busca de seu grande amor, Nino, o italianinho (Juca de Oliveira). Mas Nino estará trancado em um laboratório tentando criar um clone do Murilo Benício, então Gemma, depois de ser atazanada por um certo Caco Antibes que insiste em afirmar que é genro dela, vai voltar para a sua vila natal, a Vila Sésamo, onde passará o resto dos dias brincando com seu grande amigo Garibaldo. E quem matou o Saulo? Taí a grande sacada. Saulo (Werner Shüneman) também não morreu. Ele simplesmente se encheu de tudo e voltou para a Casa das Sete Mulheres.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cinco contra um

Adam Levine, o vocalista do Maroon 5, resolveu tirar a roupa para ajudar na campanha de conscientização do câncer de testículo e de próstata. Mas parece que ele ainda está influenciado pelo título do último album Hands All Over.

Eu não gosto muito desta quantidade de tinta no corpo. Mas gostei da campanha e espero que a moda pegue. Examinar o corpo olhando para ele fica muito mais agradável.

Notou a cara de safadinho na foto menor?

O Brasil está cada vez mais legal

O Brasil está cada vez mais legal. E eu não estou querendo dizer "bacana"; mas "legal" no sentido de "jurídico" mesmo. Há duas semanas que a catraca da minha academia, que tem um sistema informatizado, não me deixa entrar porque meu exame médico está vencido. E não é porque eles estão preocupados com a minha saúde. É porque eles precisam saber em quem colocar a culpa se eu tiver um piripaque na esteira ou uma síncope de tanto ficar olhando os músculos dos garotos sarados.

É uma tendência do mundo moderno e civilizado. Alguém tem que levar a culpa. E na hora de ver quem paga o pato não dá pra ficar botando a culpa na bossa nova.  Em países como os Estados Unidos há uma preocupação muito grande em manter as calçadas limpas e desimpedidas, e não é porque eles se preocupam com os pedestres. É porque o pedestre pode processar o dono da casa caso escorregue e caia na calçada. E quando há um acidente aéreo os familiares dos passageiros processam a empresa aérea que processa o fabricante do avião que processa o fabricante da peça defeituosa que processa o fornecedor do parafuso que abre falência e não paga ninguém. E assim o mundo continua rodando.

Mas, voltando ao meu caso, fiz minha avaliação cardiológica hoje e o cardiologista detetou uma arritmia. E para que eu não o processe caso tenha o tal piripaque ele pediu uma bateria de exames, incluindo o PSA - aquele que tem que ser feito com jejum de 12 horas, não ter usado supositório (ou qualquer outro dispositivo intra-anal) nos últimos 3 dias, não ter ejaculado nas últimas 48 horas, e não ter andado de bicicleta, motocicleta ou a cavalo nos últimos dois dias. Ou seja, acho que vou ter que ficar pelado olhando para o saco durante 2 dias para ter certeza que ele não vai ter nenhum stress até eu fazer o exame. Ih... esqueci de perguntar se cueca apertada ou coçar o saco pode.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fé demais não cheira bem

Padre Cutié flagrado no maior amasso
Em maio de 2009 o padre católico Alberto Cutié sacudiu os alicerces da Igreja ao ser fotografado no maior amasso com uma mulher na praia em Miami. Cutié era considerado uma celebridade internacional e fazia muito sucesso na mídia principalmente pela cara de galã e pelo desembaraço, e ainda tinha um programa na televisão. Para se ter uma ideia do escândalo, é mais ou menos assim como se pegassem o padre Marcelo ou o padre Fábio de Melo de sunga na praia encoxando alguma loira oxigenada ou, melhor ainda, um encoxando o outro em uma sauna gay.



O padre gostosão acabou deixando a Igreja e casando com a moça da praia, hoje sra. Ruhama Cutié. Mas a história não para por aí. Alberto Cutié lançou oficialmente ontem o livro Dilemma: A Priest's Struggle with Faith and Love (algo mais ou menos como Dilema: O Conflito de Um Padre entre a Fé e o Amor). No livro o ex-padre acusa a Igreja de misoginia, e hipocrisia em relação à homossexualidade, e diz ainda que não passa de "uma instituição que continua promovendo ideias velhas".

E vai mais além: "Há uma quantidade tão grande de homossexuais, tanto praticantes quanto celibatários, em todos os níveis do clero e da hierarquia da Igreja, que a Igreja jamais conseguiria funcionar se todos fossem excluídos do ministério".

Alguém está surpreso?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O namorado definitivo

Concordo com minha grande amiga Zita quando ela diz que o namorado ideal são vários. Bom seria se pudéssemos ter um namorado para levar ao cinema, outro para bater papo, outro para ir para a balada, outro para curtir grandes silêncios juntos, outro para fazer sexo selvagem, outro para trocar confidências. E se você conseguiu encontrar tudo isto na forma ideal em uma única pessoa, então corra lá, tranque a porta, e amarre-o com uma corrente bem forte no pé da mesa para ele não fugir.

Na vida real, o namorado definitivo vai suprir muitos destes aspectos, mas provavelmente não todos. Para isto existem os amigos. Um grupo de bons amigos já vale meio namorado.

As pessoas normalmente usam critérios errados na busca do parceiro ideal. Quando encontram alguém que faz aquele sexo maravilhoso já acham que este seria o namorado ideal. Não necessariamente. Considerando que o casal não vai passar o tempo todo fazendo sexo, o problema está em como "aturar" o namorado no resto do tempo.

O namorado ideal deveria ser escolhido não pelos momentos em que ele leva você às nuvens, mas pelos momentos em que você tem vontade de jogá-lo pela janela. De que adianta uma hora por dia de sexo vertiginoso se o resto do tempo você tem vontade de assar o coitado em fogo brando? De que adianta se ele é lindo pra burro se quando abre a boca é mais chatinho que cutícula inflamada?

Conviver com as qualidade é sempre muito fácil. O verdadeiro teste está na convivência com os defeitos. Assegure-se que conseguirá conviver com as falhas do seu amado sem sacrificar a relação. E se o seu companheiro ideal não é muito bom justamente em sexo, jogue "fuck buddy" no Google e talvez você ache a solução para o problema.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Confissões de ano novo

Eu nunca tive o momento mamãe-eu-sou-gay. Venho de uma família de grandes gestos e poucas palavras. Minha família sempre foi muito prática e a gente nunca perdeu muito tempo discutindo a relação. Eu e meus cinco irmãos crescemos com a certeza que estávamos todos unidos por um elo inquebrantável e incondicional, e que continuaríamos sendo amados independente do que fizéssemos ou confessássemos - e esta sempre foi a nossa base de convivência.

Eu tinha 24 anos quando levei meu primeiro "amigo" para conhecer minha família. Era um almoço de domingo e estávamos um pouco tensos.  Lá pelo meio da tarde, depois do almoço, quando todo mundo estava praticamente cochilando no meio do papo, foi meu pai quem disse para o meu "amigo": "aqui nós temos o hábito de tirar uma soneca depois do almoço nos finais de semana. Você já é de casa, então vamos todos descansar um pouco antes que alguém caia de sono". Eu e meu "amigo" ficamos no meu antigo quarto, que ainda estava vazio, em camas separadas obviamente, e algumas horas depois todos levantamos e fomos tomar café e comer bolo. Foi um dia memorável. Depois deste dia minha família passou a se referir a mim no plural: "vocês vão passar o Natal aqui?" ou "vocês vão viajar no fim de semana?", coisas sutis assim que demonstravam aprovação sem necessidade de discutir a situação. Este primeiro namoro durou cinco anos, e ele é amigo de minha família até hoje.

Acho que um momento solene do tipo mamãe-eu-sou-gay teria para a minha família o mesmo efeito de confessar "mamãe, eu gosto de goiabada!". Só que provavelmente seria constrangedor. Como eu disse antes, minha família não é muito boa com palavras. Eles provavelmente diriam algo como "OK, a gente já sabia, agora vamos mudar de assunto".

Meu irmão mais novo protagonizou outro exemplo ótimo de como funciona a dinâmica da minha família. Um dia meus pais chegaram em casa e tudo do quarto do meu irmão havia desaparecido: roupas, TV, sapatos, discos, tudo. Meus pais ligaram assustados para o celular dele e ele atendeu com a maior calma: "resolvi mudar para a casa da minha namorada". A partir daquele momento a namorada dele passou a status de esposa e ninguém falou mais nisso. Hoje eles têm um filhinho lindo de 4 anos de idade. Soube que há pouco tempo eles foram ao cartório e fizeram uma escritura de declaração de união estável, mas só porque a empresa dele exigiu para estender benefícios para os dependentes.

Meus pais agem com naturalidade em relação às nossas escolhas, e todos os seis irmãos nos respeitamos e apoiamos uns aos outros. Por isso eu fico extremamente chocado e triste quando leio histórias de falta de aceitação e apoio familiar. Como a que fiquei sabendo neste último final de semana, de um amigo que foi expulso de casa porque confessou que era gay. Tenho dificuldade para processar este tipo de violência.