quinta-feira, 29 de julho de 2010

Até na África!

Paul Botha e Albert Marton pouco antes da cerimônia de casamento na
Cidade do Cabo, em foto publicada no New York Times
Um artigo publicado há dois dias no New York Times fala sobre a igualdade de direitos civis dos gays no casamento em um país tão cheio de contrastes como a África do Sul. Nestes três anos desde que a lei foi aprovada por lá, mais de 3.000 casais gays já celebraram as bodas. Um país que viveu tanto tempo com a política do apartheid sabe dar muito valor às liberdades individuais, e o vento das novidades parece carregar todo mundo com mais facilidade. Os dados são animadores, principalmente em se tratando de um continente onde impera o preconceito.

Um dos fatos que tem causado surpresa é que cerca de 80% dos casais são Afrikaners, a minoria branca que é tradicionalmente homofóbica e extremamente religiosa. A grande maioria negra e pobre que mora nas grandes comunidades ainda não teve a coragem de ficar de pé e se assumir. E ainda há empresas que simplesmente se recusam a prestar serviço nos casamentos homossexuais alegando "princípios religiosos".

Mas a grande vantagem é que a legalização dos casamentos está contribuindo para aumentar o debate e diminuir o preconceito. Todos sabemos que não há lei ou decreto que acabe com o preconceito da noite para o dia - este é um trabalho longo e lento, e ingrato. Até mesmo no Brasil, se a lei fosse aprovada hoje, isso não significaria que a população gay de Sapopemba do Riacho Comprido ou de Jaboatão da Vargem Grande poderia sair às ruas e se sentir segura.

Um comentário:

beto disse...

Não achei esse dado surpreendente.
O mundo gay vísivel na África do Sul é basicamente formado por brancos. É só ir em bar, balada, praia, pegação ou o que for, que praticamente todo mundo será branco, apesar de representarem apenas 10% da população total do país. E os afrikaners são 60% dos brancos, os outros 40% falam inglês como primeira língua.

A explicação que recebi para esse fato é que a cultura africana (negra) é extremamente homofóbica e ser "gay" é um suicídio social-familiar-psicológico para a maioria esmagadora dos negros sul-africanos. É só lembrar da perseguição aos homossexuais em outros países na África, como Uganda. E lembrar que na própria África do Sul muitos políticos negros de altíssimo status negavam a existência de AIDS, diziam que era só tomar banho depois de sexo para evitar o contágio e coisas assim.

(vale lembrar que os altíssimos índices de HIV/AIDS entre os negros sul-africanos - quase 14% da população total! - e nos países vizinhos - passa de 20% em alguns - são resultado de transmissão via relações heterossexuais)

E a explicação que recebi para a legalização do casamento gay foi que alguns gays (brancos) eram muito bem posicionados e participantes na luta anti-apartheid. E conseguiram usar dessa influência para enfiar alguns direitos gays (inclusive algo como união de fato) nas reformas que se seguiram ao fim do regime de apartheid, mesmo sendo a maioria do país extremamente homofóbica. E depois isso evoluiu em 2006 para união civil entre pessoas do mesmo sexo.